3º Domingo da Quaresma
Partindo de situações em que a escassez ou ausência de água se torna fonte de sofrimento intenso ou de grandes trabalhos na sua busca – situações que, felizmente, por ora, nós só podemos imaginar -, a Palavra do Senhor deste 3º Domingo da Quaresma aponta-nos para outras águas, verdadeiramente indispensáveis para saciarmos as nossas mais profundas sedes: de segurança, de amor e carinho, de compreensão e aceitação, de bem-estar e de paz, numa palavra, de felicidade.
Mas, nesta busca da felicidade, quantas vezes nos contentamos com águas estagnadas e poluídas, como já dizia o profeta Jeremias: “abandonaram-Me a Mim, fonte de água viva, e cavaram para si cisternas, poços rachados que não retêm a água” (Jer. 2,13). Também aqui, a mulher samaritana do texto evangélico é paradigma, pois já ia no sexto companheiro da sua vida.
Não deixa de ser curioso que, ao texto da primeira leitura, terminado com a questão “Estará Deus no meio de nós ou não?”, se segue o relato da guerra de Israel contra Amalec, enfrentado pelos soldados de Josué, enquanto Moisés, no cimo da montanha, orava a Deus. E a vitória é comemorada pela construção de um altar, designado “o Senhor é a nossa bandeira” (Ex. 17, 15).
Com efeito, é pela Fé que temos acesso à única água que pode saciar as nossas sedes mais profundas. É pela Fé que se abrem para nós aqueles “rios de água viva”, de que fala Jesus no evangelho de S. João: “Se alguém tem sede, venha a Mim, e aquele que acredita em Mim, beba. Do seu seio jorrarão rios de água viva” (Jo. 7,37-38).
A “água viva” que Jesus nos oferece situa-se não ao nível da satisfação imediata das necessidades mais básicas, mas ao nível do sentido da vida, das razões de viver, das aspirações mais profundas do ser humano, da verdadeira felicidade.
Mas o texto evangélico de hoje diz-nos também que, no fundo de cada ser humano, talvez a grandes profundidades e soterrado por pedregulhos e escombros de toda a espécie, corre um fio de água fresca, cuja descoberta nos pode encaminhar para os rios abundantes de água viva, que brotam do coração chagado de Cristo. Isso está significado na confissão da samaritana de que não tinha marido – “nisto falaste verdade”, diz-lhe Jesus.
É por isso que, um pouco ao contrário do lógico, é Cristo que pede de beber àquela mulher: “Dá-me de beber!”. Como tudo seria diferente se procurássemos sempre no outro o bom, o belo, o verdadeiro que nele existe, em vez de nos focarmos nos seus erros, nos seus defeitos, nas suas limitações! Será que, com este nosso jeito de ver, se pode construir alguma coisa?
Numa das suas belas orações, Libermann rezava assim: “Tenho sede, Jesus! Grande sede, que vai até ao desfalecimento. Tomai-me e dai-me a beber da fonte da vossa salvação. Mergulhai-me, submergi-me nas vossas águas celestes. Fazei-me esta graça, amado Jesus, para que eu não viva senão da vossa vida e na vossa vida”.
Em conclusão, na mensagem dos textos deste Domingo podemos escutar a seguinte pergunta: para quê, então, teimarmos em saciar a nossa sede em águas estagnadas e poluídas, quando, bem perto de nós, correm “rios de água viva”, dos quais Deus nos garante: “tirareis com alegria as águas da salvação” (Is.12,3)?