28º Domingo do Tempo Comum
A mensagem que a Palavra do Senhor deste domingo nos quer transmitir pode condensar-se à volta da figura daquele homem que, sendo rico, respeitado e respeitador, praticante e cumpridor desde a sua juventude, e, seguramente, também generoso nos seus donativos para com as obras da sinagoga, veio inesperadamente perguntar a Jesus que mais precisava de fazer para alcançar a vida eterna.
Creio que a nossa pergunta mais imediata seria: mas é preciso mais alguma coisa? E a primeira parte da resposta de Cristo parece apontar no mesmo sentido: “cumpre os mandamentos”. A verdade é que, para Cristo, o cumprimento dos mandamentos é apenas o primeiro passo, sem o qual não se pode avançar para os seguintes. Mas, depois dele, há ainda muito caminho para andar. Por isso, acrescenta: “falta-te uma coisa”.
A recusa em desfazer-se dos seus bens materiais é bem a prova do quão difícil é também para nós dar esse passo. Talvez por isso ele tenha ficado reservado na história da Igreja para os frades e as freiras, que fizeram profissão de perfeição evangélica. A verdade, porém, é que Jesus lhe disse apenas: “falta-te ainda uma coisa”. Este é o mar espaçoso e infindo para o qual Jesus a todos lança o convite: “faz-te ao largo”.
Ora, cultura, como a nossa, em que o padrão da realização humana se concentra na fama, no poder, na riqueza, na saúde e na beleza física, torna muito pequenas as dimensões do nosso coração. E o que se constata é que mesmo os poucos que dele conseguem usufruir não transparecem uma felicidade por aí além!
Por isso, o “falta-te uma coisa” é completado pelos outros textos: Salomão pediu ao Senhor a prudência e o espírito de sabedoria, de preferência a tronos e riqueza. Por aí lhe “vieram todos os bens e, pelas suas mãos, riquezas inumeráveis”. Só à luz da palavra de Deus é que nós poderemos avaliar corretamente todas as coisas e perceber as artimanhas dos bens materiais, da riqueza e da fama, para atrair o nosso coração a lançar aí a sua âncora.
Custa, pois, a compreender porque é tão poucos cristãos imploram do Senhor o dom da sabedoria e a alimentam e fortalecem com a assídua e regular leitura e reflexão da palavra de Deus. E a verdade é que uma navegação meramente costeira nunca nos permitirá saborear a experiência do alto mar! Podemos, pois, fazer nossa a oração do Salmo Responsorial: “Enchei-nos, Senhor, da vossa sabedoria: será ela a nossa alegria”!