Festa da Epifania
Grande deve ter sido a desilusão dos Magos, ao chegarem a Jerusalém: em vez de encontrarem sinais de festa, assinalando o nascimento do seu Rei, eles defrontam-se com um desconhecimento completo e generalizado e com a perturbação das autoridades. E não fora o reaparecimento da estrela – mal se puseram de novo a caminho – e o regresso à sua terra natal estaria inexoravelmente antecipado e envolto na maior das frustrações!
Percebe-se facilmente que S. Mateus quer transmitir-nos o sem-sentido de uma Jerusalém sem alegria, sem esperança e sem vida, de tanto mergulhada que estava no comodismo e na rotina. De facto, a Jerusalém do tempo do nascimento de Jesus pouco ou nada tem a ver com a Jerusalém anunciada pelo profeta Isaías: “levanta-te e resplandece … sobre ti levanta-se o Senhor … ficarás radiante, palpitará e dilatar-se-á o teu coração”!
Não será que o mesmo acontece, ainda hoje, com tantos cristãos e comunidades cristãs, para quem o Natal “já passou”, sem deixar um rasto de luz, de alegria, de compromisso, de transformação? Mergulhados num Natal de consumismo e de tradição, também uns e outras ficariam surpreendidos e perturbados se alguém lhes perguntasse: onde está o vosso Menino Jesus, que acaba de nascer?
Que pena para nós, cristãos, e para todos os outros um Natal assim, um Natal cuja luz se apagou no dia seguinte e, com ela desapareceram do nosso coração e do nosso rosto a delicadeza, a atenção, a disponibilidade e o sorriso!
Mas a gruta de Belém está sempre aí à nossa disposição, para dela nos aproximarmos como os Reis Magos, em atitude de adoração, isto é, de abertura ao único PRESENTE que pode encher as nossas vidas. O ouro, incenso e mirra que Jesus espera de cada um de nós é deixarmo-nos inundar da sua luz, é deixarmo-nos guiar pela sua estrela, para trilharmos caminhos de verdade, de fraternidade, de paz! Então, sim, também nós regressaremos à vida de todos os dias por outros caminhos!
E para quê persistir nos caminhos da tristeza, do pessimismo, da rotina, da resignação, da solidão e da indiferença, se até já experimentámos que há caminhos muito mais luminosos e irradiadores de felicidade? Façamo-nos companheiros dos Magos no regresso às nossas vidas do dia-a-dia, certos de que, como aconteceu com os discípulos de Emaús, Jesus caminha ao nosso lado!