16º Domingo do Tempo Comum
Ficar-se por uma boa justificação para ‘malhar’ nos padres e bispos que não correspondem às nossas expectativas, é truncar o texto do profeta Jeremias da maior riqueza que, por ele, Deus nos quer transmitir.
Com efeito, se aí encontramos um sério aviso àqueles que “perdem e dispersam as ovelhas do rebanho”, quando tinham a missão de as guardar, congregar e encaminhar para boas pastagens, Deus garante-nos que, mesmo então, as ovelhas não são abandonadas à sua má sina, porque Aquele que é o Pastor bom supre as deficiências daqueles que não corresponderam à responsabilidade que lhes foi confiada.
Esta situação – que não é exclusiva dos tempos anteriores à vinda de Cristo – aponta para uma responsabilidade não correspondida e de que terão de prestar contas, mas e sobretudo aponta para Aquele que, de facto, foi, é e será sempre o Bom Pastor, e que Paulo, na segunda leitura, apresenta como aquele que, pelo seu próprio sangue, “fez de judeus e gregos um só povo”, derrubando “o muro da inimizade que os separava” e “estabelecendo a paz”.
Com a vinda de Cristo, esta promessa de Deus realiza-se e, embora na Igreja a missão de pastor continue confiada a homens – por isso mesmo também passíveis de falhar -, Cristo continua presente e atuante, através deles e para além deles.
Por isso, Cristo é o único modelo a ser aprendido e imitado, antes de mais por aqueles a quem a própria Igreja chama especificamente para este ministério, mas também por todos os cristãos, cuja presença e atuação deve estar marcada pelo jeito de Jesus.
Disso é bem significativo o episódio do texto evangélico de hoje, em que, com a mesma ‘justiça’, Jesus procura um lugar e tempo para, com os seus discípulos, ser feita a partilha e a avaliação da experiência missionária realizada, bem como para um pouco de descanso (férias?), mas toda esta planificação é posta de lado, para ser dada toda a atenção àquela multidão, porque para Jesus “eram como ovelhas sem pastor”.
A misericórdia e a compaixão devem, por isso, ser a marca distintiva, não só daqueles que são chamados ao ministério sacerdotal (diáconos, presbíteros e bispos), mas de quantos queiram ser e apresentar-se como discípulos de Cristo, já que toda a ação da Igreja se designa como ‘pastoral’ (catequética, litúrgica, socio-caritativa). Sem esta marca, como diz o papa Francisco, a Igreja ficará reduzida a mais uma ONGD, por mais excelente que seja o seu trabalho.