10º Domingo do Tempo Comum
A Palavra de Deus deste domingo remete-nos para a visão bíblica e cristã do ser humano e de toda a realidade criada, tema de grande atualidade nos dias de hoje face às diversas visões antropológicas que nos pretendem impor.
Com efeito, pela narração do bem conhecido como ‘pecado original’, é-nos apresentada a situação do ser humano após a queda, da qual resultou a rutura não só com Deus, mas também consigo mesmo, com os outros e com toda a criação. Aquilo que identifica a pessoa humana – a responsabilidade pelos seus atos e a abertura à verdade – dá lugar a uma desresponsabilização generalizada, passando a culpa para os outros e recorrendo às justificações que mais nos convenham, mesmo que sejam um atentado à inteligência.
Esta situação teria sido verdadeiramente dramática, se Deus nos tivesse virado as costas. Mas não! No mesmo momento da rutura, Deus promete a salvação – “Estabelecerei inimizade entre a tua descendência e a descendência dela. Ela há de atingir-te na cabeça” – salvação essa que Cristo veio realizar, anunciando a boa nova do Reino e expulsando os demónios, que são símbolo do mal, do pecado e da morte. Ele é o caminho único e seguro que nos pode reconduzir à intimidade com Deus Pai: “Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.
Mas, este caminho novo não está vinculado a laços de sangue, a raças ou a categorias sociais, exige apenas uma condição: “acreditar com o coração e proclamar com a boca”. Bento XVI, na sua Carta Apostólica “A Porta da Fé” afirmava a este propósito: “o professar com a boca indica que a fé implica um testemunho e um compromisso públicos. O cristão não pode jamais pensar que o crer seja um facto privado. A fé é decidir estar com o Senhor, para viver com Ele”.
Estamos, pois, perante dois paradigmas de compreensão do ser humano: o homem sem ou contra Deus e o homem com Deus. E a escolha não é indiferente para a nossa felicidade, pois os respetivos caminhos são opostos. Do caminho com Deus nos fala S. Paulo na segunda leitura: “Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos há de ressuscitar com Jesus e nos levará para junto d’Ele”.
É com esta certeza que podemos encarar todas as situações da vida: sofrimentos e contrariedades? – “A ligeira aflição do momento prepara-nos um peso eterno de glória”; critérios e valores deste mundo? – “Não olhamos para as coisas visíveis, pois elas são passageiras”; a vida e a morte? – “Recebe[re]mos nos Céus uma habitação eterna, que é obra de Deus e não é feita pela mão dos homens”.
Que o Senhor nos ajude a escolher bem e a vivermos de acordo com a escolha feita, mesmo que – tal como Cristo – tenhamos de enfrentar a tirania do socialmente correto e de passar por ‘loucos’!