José Manuel Imbamba é o presidente da Conferência Episcopal de Angola e S. Tomé (CEAST) e, por isso, as suas palavras são pesadas e contam. A intervenção na sessão de Abertura da Assembleia Plenária, realizada em Benguela de 1 a 7 de Fevereiro, foi muito mediatizada e largamente difundida nas redes sociais. Ele não se moderou nas palavras e disse com todas as letras que a situação da pobreza em Angola continua assustadora. E deu um exemplo clássico: há cada vez mais gente a procurar comida nos contentores de lixo e nos caixotes às portas dos supermercados. Amplificando um grito que chega do sul do país, atingido por uma seca prolongada, D. Imbamba chamou a atenção para a fome que está a dizimar as populações locais, sobretudo as mais pobres que vivem só da actividade agro-pecuária.
A Assembleia pareceu tomar o ritmo de velocidade de cruzeiro, com as reuniões, a ordenação do Bispo Auxiliar de Benguela e algumas visitas e inaugurações, mais eis que veio a Sessão de Conclusão com a tão esperada Mensagem Final.
Em ano de eleições, este tema era incontornável e tinha de ser central. Os Bispos distanciaram-se de opções partidárias afirmando que a Igreja não tem candidatos favoritos, apenas pretende apoiar o processo eleitoral para que vença a democracia e o povo ganhe na escolha dos melhores governantes. A palavra de ordem é ‘transparência’ e o processo eleitoral, desde o recenseamento do povo até à contagem dos votos, tem de ser claro, não dando margem para nenhuma espécie de dúvidas. Os Bispos lembram às populações a importância de se inscreverem e votarem. Pedem a presença de observadores internacionais, a fim de afastar para bem longe toda e qualquer suspeita de fraude eleitoral. E, para que a democracia se cimente, há que definir com clareza e rapidez o calendário das eleições autárquicas, um processo eterna e estrategicamente adiado desde a já longínqua independência.
A situação social do país também está retratada nesta Mensagem da CEAST. Há alertas constantes e claros para a fome que vitima muita gente, particularmente no sul de Angola. Os Bispos pedem aos governantes a humildade que é necessária para o reconhecimento da gravidade da situação e, desta forma, decretarem o estado de emergência que ajudará a resolver este drama ainda sem fim à vista.
Belmiro Chissengueti, Bispo de Cabinda e porta-voz da CEAST, falou da má política económica do país que investe mais em importações do que na produção e distribuição nacional de bens de primeira necessidade, desde a água engarrafada até à farinha de milho ou mandioca. Esta aposta ajudaria a resolver boa parte dos problemas que vitimam as populações mais fragilizadas.
Há ainda na Mensagem uma preocupação expressa pelo aumento galopante do desemprego que ajuda a interpretar os altos índices de violência que se praticam em Angola. O mesmo se diga da degradação dos hábitos e costumes.
A reconciliação nacional é outro dos grandes desafios para que os Bispos apelam. Há que melhorar o diálogo entre os partidos e a sociedade civil, apostando em dinâmicas que unam as pessoas e aumentem o índice de confiança nos políticos.
Os pobres – segundo a CEAST – só serão ajudados se a corrupção for combatida com sucesso. Esta tem de ser uma das prioridades dos governantes, sejam eles quais forem. A liberdade de informação também exige uma imprensa despartidarizada.
A Igreja Católica, sempre atenta à vida das populações, ergueu a sua voz para que Angola rasgue caminhos de felicidade e não dê mais lugar – como teme D. Imbamba – ao ‘notório desespero e à perda de fé no futuro’.