17º Domingo do Tempo Comum
Os desafios relatados nos textos deste domingo são verdadeiramente insignificantes face aos tremendos desafios com que nos deparamos hoje: seja a fome, seja a guerra, seja o paludismo, sejam as injustiças sociais, etc, etc. Também por isso, a atitude mais comum perante eles é: “eu não os posso resolver!” – e é verdade!
Só que a grande lição desta Palavra de Deus é dizer-nos que não se nos pede que resolvamos, nem todos os problemas do mundo, nem sequer um deles, mas que nos coloquemos na atitude de, abrindo o coração e as mãos, darmos para a sua resolução o nosso contributo, por mais pequeno que ele seja ou que assim nos pareça. O resto deixemo-lo para Aquele que até podia resolver tudo sozinho, mas deixa bem claro que é sobre os nossos ‘nadas’, sobre o nosso ‘pouco’ que ele acrescenta o resto – que é quase tudo!
Só que isto implica em cada um de nós uma grande mudança de mentalidade. Habituados como estamos à cómoda atitude de ignorar ou, quando muito, apontar problemas que os outros devem resolver, esta Palavra de Deus ‘obriga-nos’ a sermos parte da solução. Mas isso acarreta-nos desinstalação, compromisso, riscos, incertezas, más interpretações, que, a todo o custo, queremos evitar!
A força que nos pode levar a esta mudança de atitude não a recebemos de uma ideologia, de um partido ou, simplesmente, de um sentimento filantrópico. S. Paulo recorda-nos que, porque “há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos e em todos Se encontra”, não podemos resignar-nos a uma atitude “socialmente correta”, mas lançar-nos no caminho espinhoso do empenho na resolução dos problemas dos nossos irmãos, mesmo que, em nome da prudência, aos nossos ouvidos sejam repetidos conselhos amigos de sentido contrário.
A caridade, para a qual Bento XVI, nos convocava na sua encíclica “Deus é amor”, tem de revestir-se hoje de grandes doses de ‘fantasia’ e de ‘ousadia’, pois essa é a maneira nova de viver “a que, pelo Baptismo, fomos chamados” e que exige de nós, como de Jesus, que subamos, sozinhos muitas vezes, até ao coração daquele Deus de quem reconhecemos: “abris, Senhor, as vossas mãos e saciais as nossas fomes”.
A partir daí, deixaremos de nos lamentar que não podemos resolver nada, para juntar o nosso ‘nada’ aos ‘nadas’ dos outros e ao garantido ‘muito’ do nosso Deus. Também nós abriremos o nosso coração e as nossas mãos para repartir, pois até o ritual eucarístico do milagre nos aponta que este é o caminho para quem verdadeiramente participa na Eucaristia!