Domingo da Santíssima Trindade
Terminado o tempo pascal, somos hoje convidados a mergulhar no mistério mais insondável, mas também o mais característico do Cristianismo: o mistério da Santíssima Trindade. A ‘noite’ deste mistério não é sinónimo de escuridão, resultante da ausência total de luz, mas, pelo contrário, da fortíssima intensidade desse mar de luz, mar sem fim e sem fundo, que a nossa capacidade visual não consegue captar.
Columbano escreveu: “com razão se compara o conhecimento da Trindade à profundidade do mar, como diz o Sábio: Quem poderá investigar a profundidade insondável? Assim como a profundidade do mar é invisível aos olhos dos homens, assim a divindade da Trindade é incompreensível às faculdades humanas. E por isso, se alguém quiser conhecer aquilo em que deve crer, não pense que o entenderá melhor discutindo do que acreditando: o conhecimento da divindade, quanto mais se discute, mais se afasta de nós”.
Por isso, este mergulho só pode ser feito numa atitude de contemplação e adoração. Com S. Paulo exclamamos: “Ó abismo de riqueza, de sabedoria e de ciência em Deus! Quão impenetráveis são os seus juízos e inexploráveis os seus caminhos! D’Ele e por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele a glória por toda a eternidade! Ámen!” (Rom. 11, 33-35). Assim, tudo o que se disser sobre este mistério não passa de tímidas e ténues aproximações, que mais apontam do que alcançam. E a Palavra de Deus desta Solenidade convida-nos, de vários modos, a fazermos essa viagem de aproximação.
Antes de mais, foi o que fez Moisés, convidando o seu Povo a interrogar os tempos antigos, para, na obra da criação, descobrir a assinatura, as marcas da presença atuante de Deus. Esta presença tornou-se ainda mais visível na epopeia da libertação do Egipto e na celebração de uma aliança com o Povo eleito. É o próprio Moisés que adianta as conclusões: de facto, não há outro Deus e o cumprimento das suas leis e mandamentos é o único caminho seguro para a prosperidade e a felicidade. Olhos de contemplar é o que mais falta nos faz para, na beleza da obra da criação, composta pela harmonia da diversidade, lermos o jeito de ser e de atuar do nosso Deus!
Paulo, por sua vez, recorda-nos que Deus não se limitou a dotar o ser humano de espantosas capacidades, hoje bem manifestas nos prodígios da ciência e da técnica, mas, depois de criados à sua imagem e semelhança, deu-nos a possibilidade de vivermos como filhos seus, infundindo em nós, pelo Espírito Santo, “o espírito de adoção filial”. Por isso, também no nosso ser e no nosso agir deve estar presente a ‘marca’ trinitária.
Mas, esta viagem só pode ser feita com segurança na companhia de Jesus, pois “ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o der a conhecer”. Por isso Ele é o Caminho obrigatório para a Verdade plena e a Vida verdadeira. Para isso, Ele montou a sua tenda no acampamento dos homens e subiu ao céu para estar junto de todos nós, através do envio do Seu Espírito.
E o texto do evangelho recorda-nos que a fonte da missão está exatamente no seio da Trindade. De facto, só aqueles que mergulham nas águas desta nascente podem encarar a missão não como uma tarefa imposta, mas como uma paixão a abraçar. Com razão, pois, João Paulo II afirmava, na ‘Redemptoris Missio’: “o missionário deve ser ‘um contemplativo na ação’. Se não é contemplativo, não pode anunciar Cristo de modo credível. Ele é [leia-se: tem de ser] uma testemunha da experiência de Deus”, deste Deus uno e trino, cujo mistério hoje contemplamos, adoramos, proclamamos e queremos louvar: GLÓRIA AO PAI E AO FILHO E AO ESPÍRITO SANTO!