3º Domingo do Tempo Comum
Os textos deste terceiro Domingo do Tempo Comum dão um relevo todo particular à Palavra, designadamente ao cerimonial da sua proclamação. Esta mensagem continua atual, apesar dos esforços e progressos feitos pela reforma litúrgica a partir do Vaticano II. É que a paridade entre a mesa da Palavra e a mesa do Corpo de Cristo constitui um objetivo ainda não [completamente] alcançado. Foi por isso também que o Papa Francisco proclamou este domingo como o Domingo da Palavra: “A Bíblia não pode ser património só de alguns e, menos ainda, uma coletânea de livros para poucos privilegiados. Pertence, antes de mais nada, ao povo convocado para a escutar e se reconhecer nesta Palavra. A Bíblia é o livro do povo do Senhor que, escutando-a, passa da dispersão e divisão à unidade. A Palavra de Deus une os crentes e faz deles um só povo.”
E desta constatação só pode resultar um empenho renovado para que, cada vez mais, sejamos homens e mulheres DE palavra e DA palavra, isto é, solidamente alimentados pela Palavra de Deus. Na verdade, quando é que poderemos fazer nossas as palavras do profeta Jeremias: “quando apareciam as vossas palavras, eu tomava-as como alimento: a vossa palavra era o encanto e a alegria do meu coração” (Jer. 15,16)?
Para isso, a Palavra de Deus deve progressivamente entrar nas nossas vidas e tornar-se alimento diário de que nenhum cristão se deve abster. De facto, o Cristianismo é, acima de tudo, a religião da palavra: “Muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas. Ultimamente falou-nos pelo Seu Filho” (Heb. 1,1).
Por sua vez, S. João apresenta-nos Cristo como o “VERBO”, isto é, a Palavra definitiva proferida por Deus. Custa a crer como continuamos tão sensíveis a histórias moralizantes – indispensáveis em pregação que se preze – e a conteúdos de revelações particulares, em detrimento do alimento sólido e garantido da palavra ‘oficial’ de Deus, pronunciada no e pelo Seu Filho Jesus, presente e proclamada em todas as celebrações litúrgicas.
Por isso, é também para nós a recomendação de S. Tiago: “Sede cumpridores da palavra e não apenas ouvintes; isto equivaleria a vos enganardes a vós mesmos… Aquele que procura meditar com atenção a lei perfeita da liberdade e nela persevera, este será feliz no seu proceder” (Tiago, 1,22-25). Com efeito, como afirmava S. Jerónimo, “desconhecer as Escrituras é desconhecer o próprio Cristo”!