A justiça e a inclusão social estão intrinsecamente ligadas. Já se foram os dias em que os destinos das pessoas de todo o mundo se encontravam inteiramente nas mãos de outros povos, que pouco ou nada sabiam dos costumes desses povos e nações. Na pluriformidade incontornável que carateriza o nosso tempo, já não é possível pensar para os outros ou presumir que o que nos serve a nós, servirá aos outros também. Há que caminhar com todos na procura de um mundo mais justo, porque a definição da justiça implica inclusão. De outro modo, a justiça torna-se improvável, para não dizer impossível, se não se incluir todos os envolvidos na sua procura.
A inclusão assegura precisamente que as pessoas não sejam usadas como ferramentas para realizar os sonhos egoístas de outras pessoas, grupos, instituições, agências ou mesmo do próprio estado.
Podemos pensar neste tema nas relações entre o estado e a igreja, na relação entre grupos religiosos diferentes, entre os governos e seus povos, nas litigações nos tribunais ou mesmo na gestão das questões relativas à imigração e ao terrorismo. A inclusão implica que se “abra o jogo” para todos os interessados. O processo pode ser duro e desgastante; mas não deixa de ser o mais certo porque, idealisticamente, não deixa ninguém fora.
Não é egoístico perguntar, “o que é que eu vou beneficiar ou em que maneira é que o meu povo usufruirá de um projecto socioeconómico ou político em que estão envolvidos?” Em muitas situações as pessoas lutam por sonhos de outrem só para chegarem ao fim e perceberem que este outro nunca teve uma participação nessa luta e que, na verdade, ele não se empenhou na mesma. A história está repleta de pessoas que viveram vidas por outros, chegando mesmo até a morrer por causas desconhecidas. A época da vida militar do ultramar é um bom exemplo. Por isso, devemo-nos perguntar sempre: “Por que estou a fazer isto?” Seja na religião ou no casamento; a regra é a mesma. Ninguém é de ninguém!
Qualquer atividade privada ou coletiva em que cada pessoa se envolve deve ser para o seu bem, enquanto indivíduo ou grupo. Mais importante ainda, a nossa aposta e convicção deve ser tal que, mesmo que todo mundo desistisse dela, nós teríamos bastantes motivos para a não abandonar, nem abdicar. Devemos sempre confirmar que estamos profundamente envolvidos e apaixonados nas causas pelas quais lutamos. Damos a vida apenas porque sentimos, achamos e entendemos que certamente o que estamos a fazer é capaz de beneficiar-nos a nós ou aos outros.
Neste país, como em muitos outros, os procedimentos para termos acesso à justiça são demasiados demorados e, em muitos casos, com arquivamentos dos casos por falta de tempo ou evidências e não, porque se fez justiça. Em muitas situações isto acontece porque os processos não levam em conta todos os interessados. Existe uma alienação entre as pessoas e suas causas e casos. Se todos os litigantes e criminosos fossem envolvidos de uma forma ou outra mais transparente na prossecução dos assuntos que lhes dizem respeito, muitos processos não teriam chegado sequer aos tribunais. Se percebessem, à partida, que a sua prossecução não é uma punição ou um jogo em que alguém se impõe sobre eles para mostrar o seu saber e assim dominá-los, era mais fácil a sua colaboração e as coisas podiam ter outro desfecho. O caso clássico do século XIX do Americano George Wilson que assaltou um carteiro e recusou o perdão presidencial que lhe pouparia a vida comprova isso mesmo.
Talvez uma das grandes dificuldades que se enfrenta na procura da justiça é a sua conexão com a religião ou com a teologia. As pessoas tentam atribuir uma perceção rígida da justiça a Deus para quem a justiça abrange o amor e a misericórdia. Deus, por amor, criou o homem, pela justiça condenou-o e pela misericórdia o redimiu. Deste modo, percebamos que a justiça encarada aos olhos de Deus é inclusiva de todos os homens e mulheres.
Simon Ayogu