Foi nos inícios do secundário, mas nunca mais me esqueci. A peça chamava-se “Uma gota de mel”, e a versão que representamos resume-se assim: Um homem estava no seu quintal a comer mel, quando deixa cair uma gota no chão. Uma abelha que por ali andava vem aproveitar o desperdício, chamando a atenção de um pássaro que aproveita para apanhar a abelha. Pássaro no chão é atração certa para o gato da casa, que vem a correr para o apanhar. Ao ver o gato, o cachorro do vizinho salta a vedação e vem atacar o gato. O dono do gato com um pau ataca o cão, que com os latidos chama em socorro o respetivo dono, que vem defender o cachorro e atacar o dono do gato. Num nada estão as duas famílias à pancada, atraindo os vizinhos que prontamente se envolvem na pancadaria, e a seguir é o bairro inteiro que está dividido em duas fações, uma lutando contra a outra. Outros bairros se juntam, uns dum lado outros do outro, depois as cidades, não tarda muito é o país inteiro que está em guerra civil. Um país em guerra já se sabe que atrai outros, cada parte chamando aliados e esconjurando inimigos, até chegar a uma guerra mundial. A peça terminava com o narrador, pesaroso e atónito, lamentando: “E tudo começou com uma gota de mel!”
Não posso garantir quem é o autor da peça original, a internet atira-me para vários pais e eu não quero responsabilidades dessas. Não tendo a certeza do pai, tenho a evidência dos filhos. Ela reproduz-se nas famílias, nas comunidades cristãs, na sociedade. Coisas sem importância nenhuma que são transformadas em dramas que deixam feridas para sempre; mal entendidos menores que geram ressentimentos, depois ódios e depois tragédias. É uma ironia que a tragédia comece com o mel. Ou talvez não, nestes incêndios a boca raramente sai inocente. Razão tem o Livro de Ben-Sirá: “Se soprares a uma faúlha, ela inflama-se; se cuspires sobre ela, ela apaga-se; ambas as coisas saem da tua boca” (Sir 28,12).
“A Gota de Mel”, poema coral dramático de León Chancerel,
A onde posso adquirir o texto. Quando andava no grupo de jovens fizemos essa peça mm as já não a
tenho
Boa tarde.
Também nos meus tempos de estudante, interpretámos esta peça de teatro, mas o conteúdo era ligeiramente diferente.
A tradução que existe na Torre do Tombo, foi a que seguimos ( há mais de 40 anos).
Um pastor entrou numa tenda e, ao comprar mel, caiu a tal gota no chão. O resultado foi na mesma uma guerra, da qual só restaram 2 soldados que não faziam ideia de como a guerra tinha começado.
E o mesmo acontece hoje, as guerras começam por motivos fúteis ou por mentes danificadas, e após milhares de mortes, o motivo desaparece, mas as mortes continuam.