Festa da Sagrada Família
É inegável que, nos nossos dias, vai crescendo a consciência de que temos de cuidar da natureza. Com efeito, a ecologia é um valor cada vez mais assumido. Mas há uma outra ecologia que ainda se torna mais prioritária: a ecologia humana! A cada um de nós compete defendê-la e lutar por ela.
É que, destruindo-se a família – essa escola básica e insubstituível da ‘humanização’ – desaparece também o “protótipo de todo o ordenamento social”, que S. Paulo apontava no texto da segunda leitura de hoje, pois é só aí que se pode fazer a aprendizagem prática dos valores da compreensão, do respeito mútuo, da interajuda e do perdão. Estes são os valores capazes de construir uma convivência social, correta e sadia, e uma verdadeira cidadania, forjando cidadãos honestos, íntegros, respeitadores e comprometidos no bem comum.
Sirva-nos de exemplo a Sagrada Família, que hoje honramos e celebramos, e aprendamos com ela a enfrentar com coragem todos os desafios que a vida nos vai apresentando, certos de que unindo os nossos esforços à sua proteção, poderemos fazer dos nossos lares escolas onde as novas gerações possam crescer “em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens”.
E não nos é difícil imaginar o estilo de vida que reinou na casa de José e Maria: simplicidade, austeridade, alegria, disciplina, dedicação, atenção mútua.
Se não, vejamos: com quem aprendeu Jesus a estar atento aos pobres e fracos, se não com seus pais? Onde ganhou Jesus coragem para descansar em qualquer lugar, sem exigir um mínimo de comodidade (“nem uma pedra onde reclinar a cabeça”), se não na casa de Nazaré? Onde ganhou Jesus o hábito de se levantar cedo para rezar, se não na casa paterna? Com quem aprendeu Jesus a cantar e a louvar a Deus, se não com seus pais? Com quem aprendeu Jesus a ser honesto e sincero, a perdoar e a ser compreensivo e compassivo, se não com Maria e José? Com quem aprendeu Jesus a contemplar a beleza da natureza (“vede os lírios do campo: nem Salomão se vestiu tão bem”), se não com seus pais? Com quem aprendeu ele a ser “manso e humilde de coração”, se não com Maria e José?
E poderíamos continuar por aí adiante… Mas ‘isto’ já é mais que suficiente para nos perguntarmos: como podem as nossas crianças de hoje aprender a rezar, se em sua casa nunca se reza? Como poderão elas aprender a admirar e contemplar a natureza, se passam os tempos livres a ver televisão e a jogar nas ‘playstations’ ou encafuadas nos Shoppings? Como poderão elas aprender a respeitar os outros se os seus pais não se respeitam, não se perdoam e, à menor desavença, se agridem e se separam? Como poderão elas crescer harmonicamente se apenas convivem com o pai ou com a mãe? Numa palavra, que educação recebem as crianças de hoje? Que homens e mulheres estamos a preparar para o futuro? Que cidadãos vamos deixar aos tempos vindouros?
Bento XVI lembrou que “ninguém pode ignorar ou subestimar o papel decisivo da família, célula básica da sociedade, dos pontos de vista demográfico, ético, pedagógico, económico e político. Na família, nascem e crescem os obreiros da paz, os futuros promotores duma cultura da vida e do amor”.
Regressemos, pois, todos à casa de Nazaré, para aí reaprendermos o valor e a importância da família para o futuro da humanidade!