Solenidade da Imaculada Conceição
A primeira afirmação que, por contraste, encontramos nos textos de hoje, é que, ao contrário de Adão e Eva, Maria não se esconde de Deus! Bem ao contrário, apresenta-se diante de Deus totalmente disponível ao afirmar: “eis a escrava … faça-se em mim segundo a tua palavra”.
De facto, no texto do evangelho Maria é-nos apresentada como a verdadeira Eva, aquela que, tendo-se, livre e totalmente, colocado à disposição de Deus para fazer a sua vontade e abraçar o seu projeto, vê a sua própria virgindade tornar-se fonte de uma fecundidade maior!
Por isso, se é verdade que a definição do dogma da Imaculada Conceição de Maria está ligada às suas aparições em Lourdes, já desde 1476 a fé do povo cristão celebrava a conceição imaculada daquela que iria ser convidada para ser mãe de Jesus e os Padres da Igreja a tinham proclamado como condição ‘necessária e conveniente’ para aquela que ia gerar em seu seio o próprio Filho de Deus.
Mas, não pensemos que, pelo facto de Maria ter sido preservada da mancha do pecado original, lhe foi mais fácil do que a nós estar totalmente disponível para Deus! Aliás S. Paulo recorda-nos que também nós estamos abençoados “com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo”. Significa isto que Deus sabe o que faz e se não escolhe necessariamente os mais capazes, capacita aqueles que escolhe para eles poderem aceitar os seus convites.
Por isso, o papa Francisco nos convida a encarar Maria como uma pessoa normal, que nos pode servir de modelo: “Viveu na simplicidade das mil ocupações e preocupações quotidianas de toda e qualquer mãe, como fornecer o alimento, o vestuário, o cuidar da casa… Justamente esta existência normal de Maria foi terreno onde se desenvolveu uma relação singular e um diálogo profundo entre ela e Deus, entre ela e o seu Filho. Na Anunciação, o Mensageiro de Deus chama-a ‘cheia de graça’ e lhe revela este projeto. Maria responde “sim” e desde aquele momento a fé de Maria recebe uma luz nova: concentra-se em Jesus, o Filho de Deus que dela se fez carne e no qual se cumprem as promessas de toda a história da salvação. A fé de Maria é o cumprimento da fé de Israel: nela está justamente concentrado todo o caminho, toda a estrada daquele povo que esperava a redenção. Neste sentido Maria é o modelo da fé da Igreja que tem como centro Cristo, encarnação do amor infinito de Deus”.
Por isso, também com o papa Francisco, pedimos:
– Que Maria, mulher da escuta, abra os nossos ouvidos; faça que saibamos escutar a Palavra do seu Filho Jesus entre os milhares de palavras deste mundo; faça que saibamos escutar a realidade na qual vivemos, cada pessoa que encontramos, especialmente aquela que é pobre, necessitada, em dificuldade;
– Que Maria, mulher da decisão, ilumine a nossa mente e o nosso coração, para que saibamos obedecer à Palavra do seu Filho Jesus, sem hesitar; nos dê a coragem da decisão, de não deixarmos que sejam os outros a orientar a nossa vida;
– Que Maria, mulher de ação, faça que as nossas mãos e os nossos pés se movam “à pressa” para os outros, para levar a caridade e o amor do seu Filho Jesus, para levar, como Ela, ao mundo, a luz do Evangelho.
Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós, que recorremos a Vós!