7º Domingo do Tempo Comum
Não sendo contra ninguém, nem se apresentando como superior aos outros, o cristão é aquele que é capaz de assumir a diferença, na hora certa e nas questões fundamentais.
Por isso, ser cristão é muito mais do que ter a ‘caderneta católica’ totalmente preenchida (catequese, comunhões, profissão de fé e crisma): ser cristão vai também muito para além do ter uma prática religiosa regular e do ser devoto de alguns santos (“os meus santinhos”).
É dessa diferença nos fala hoje a Palavra do Senhor:
– David mostra-se diferente de Saul, que o perseguia só por inveja, e, até, de Abisaí, seu braço direito, ao não responder à violência com a mesma moeda, mesmo que lhe assistisse o direito à legítima defesa.
– S. Paulo não se limita a afirmar a diferença entre o homem natural e terreno e o espiritual e celeste, mas lembra-nos que, vindo daquele, é para este que todos devemos caminhar.
– No texto do evangelho, Jesus acentua claramente essa diferença que deve caracterizar os seus discípulos: “amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos injuriam. Sede misericordiosos, perdoai, usai a medida larga”.
Neste contexto, ao provérbio popular “quem não se sente, não é filho de boa gente” seria preciso acrescentar que, apesar disso, o cristão não se “ressente”, pois o problema não está no ‘sentir’, mas no ‘consentir’, isto é, no deixar- -se levar pelo que sente
Se os outros não descortinarem em nós essa diferença, de nada nos adianta gritar ou esgrimir a nossa condição de cristãos ou católicos: apenas nos usarão segundo as suas conveniências.
Mas, antes de mais, há uma primeira diferença a ser reconhecida por cada um de nós e sem a qual não há possibilidade de mudança: é o reconhecimento da diferença entre o que ‘sou’ agora e o que ‘devo ser’! É por aqui que tem de começar a Quaresma que se aproxima, para que ela possa ser tempo favorável de conversão, tempo de graça que me ajuda a reafirmar e a assumir a minha diferença.
Na verdade, mais do que nos apresentarmos como cristãos, era importante que fossem os outros a reconhecê-lo!