Em Abril, tive a oportunidade de escrever nesta rubrica relativa ao tema da Justiça e da Paz, uma breve reflexão sobre a necessidade de preservarmos a Natureza – quer o património natural a proteger, quer os recursos que aceitamos geralmente como exploráveis para assegurar o nosso bem-estar mas que nem por isso deixam de ser eles também… Natureza – como meio de assegurarmos precisamente a Paz entre os homens. E que a preservação da Natureza é uma prioridade para a qual a Igreja tem vindo a alertar ao longo do tempo, um alerta recentemente materializado na Carta Encíclica Laudato Si do Santo Padre Francisco.
Poderá esta prioridade para a Humanidade ser uma porta para o diálogo entre crentes e não crentes? Ou ainda, entre crentes de diferentes religiões?
Na perspectiva ecológica, bem expressa no princípio ou hipótese Gaia, existe a noção de que o planeta age com um único organismo vivo, em que todos os elementos da Natureza se encontram em estreita relação de interdependência, num sistema complexo que se autorregula. Um sistema em que a componente orgânica interage com a envolvente inorgânica e vice-versa. Durante muitos milénios, na perspectiva humana, esta interação ocorreu essencialmente num único sentido: o meio condicionava o Homem. Atualmente, o Homem, como ser realmente diferente dos demais da Criação, aparenta ter uma ação decisiva sobre a Natureza (orgânica e inorgânica): extinção de espécies, esgotamento de recursos minerais e florestais, emissão de gases com efeito de estufa, poluição do ar e da água, etc., etc.
Bento XVI, citado por Francisco na Laudato Si, exortava as nações a “eliminar as causas estruturais das disfunções da economia mundial e corrigir os modelos de crescimento que parecem incapazes de garantir o respeito do meio ambiente”. Poderíamos encontrar esta ideia num cartaz do Green Peace, numa manifestação contra o Fórum Económico Mundial ou uma reunião do G20? Sim, não é? O respeito pela Criação une católicos e ecologistas/ambientalistas, crentes ou não.
Fomentemos então o diálogo com quem procura formas inovadoras de suprir as nossas necessidades enquanto sociedade, interagindo com a Natureza e não contra ela. Analisemos em conjunto conceitos como permacultura, eco-vilas, agricultura sustentável e tantos outros que buscam a harmonização da ecologia, da economia e da equidade (E3). O que porventura nos falta em conhecimento temos, como cristãos, de sobra em motivação. Urge estancar e inverter a insustentabilidade do uso dos recursos. A Criação espera de nós, filhos de Deus, essa resposta (Rm 8, 19).
Pedro Santos