Uma mensagem cheia de oportunidade para esta Quaresma
Inspirando-se no episódio da Transfiguração de Jesus no cimo do monte Tabor (Mt.17,1-8), o Papa Francisco propõe-nos uma vivência desta Quaresma em clave sinodal: “o nosso caminho quaresmal é ‘sinodal”. Trata-se, aliás, de um tema recorrente no magistério deste Papa. Basta recordar a sua recente mensagem para o Dia Mundial do Doente, na qual afirma que “ao caminhar juntos, é normal que alguém se sinta mal, tenha de parar pelo cansaço ou por qualquer percalço no percurso. É em tais momentos que se vê como estamos a caminhar. se é verdadeiramente um caminhar juntos, ou se se vai na mesma estrada, mas cada um por conta própria, cuidando dos próprios interesses e deixando que os outros “se arranjem”.
Com esta proposta, o Papa não pretende apenas colocar toda a Igreja em sintonia com o próximo Sínodo dos Bispos – cujo tema é exatamente a sinodalidade -, mas recolocar-nos na senda e em ritmo sinodal, pois “o caminho sinodal está radicado na tradição da Igreja e, ao mesmo tempo, aberto para a novidade”. Com efeito, “a tradição é fonte de inspiração para procurar estradas novas, evitando as contrapropostas do imobilismo e das experimentações improvisadas”.
Para esta escalada, é-nos apresentado Cristo como o único guia seguro, por quem “é preciso deixar-se conduzir à parte e ao alto, rompendo com a mediocridade e as vaidades”, pois “um caminho em subida requer esforço, sacrifício e concentração”. Na verdade, “neste tempo litúrgico o Senhor toma-nos consigo e conduz-nos à parte. Embora os nossos compromissos ordinários nos peçam para permanecer nos lugares habituais, transcorrendo uma vida quotidiana frequentemente repetitiva e por vezes enfadonha, na Quaresma somos convidados a subir “a um alto monte” juntamente com Jesus, para viver com o Povo santo de Deus uma particular experiência de ascese”.
Reconhecidamente, o processo sinodal “apresenta-se árduo e, por vezes, até podemos desanimar; mas aquilo que nos espera no final é algo, sem dúvida, maravilhoso e surpreendente, que nos ajudará a compreender melhor a vontade de Deus e a nossa missão ao serviço do Reino”.
Penso, aliás, ser esta a experiência de muitas comunidades cristãs. De facto, o retomar as viagens do ‘comboio sinodal’ não foi, em muitos casos, uma experiência atraente, de sucesso e de grandes adesões.
Daí a proposta preparada para esta Paróquia de Godim, sob o lema ‘Crescer na sinodalidade é crescer na santidade’: “que a graça nos sustente para sermos artesãos de sinodalidade na vida ordinária das nossas comunidades”. Ela assenta em três eixos: rezar juntos; celebrar juntos; refletir juntos, para dar nova vida a tanta coisa que se faz de forma rotineira e estereotipada e procurando, em reflexão conjunta, obter uma visão mais profunda da temática na ordem do dia – a eutanásia – e do sentido cristão do sofrimento.
Será desta forma que procuraremos corresponder à proposta do Papa Francisco para esta Quaresma: “far-nos-á bem refletir sobre esta relação que existe entre a ascese quaresmal e a experiência sinodal”.