Domingo da Santíssima Trindade
Intencionalmente, no começo deste longo período, denominado ‘Tempo Comum’, salpicado apenas por festas e romarias em honra de Santos mais ou menos populares, a Igreja coloca a festa da Santíssima Trindade para nos transportar ao seio do nosso Deus, à nascente de onde tudo corre e decorre. Esta é, aliás, uma viagem que temos de fazer com frequência, para aí reencontrarmos o rumo certo para a nossa vida e na sua água bebermos a força para a caminhada.
Foi o que fez Moisés, convidando o seu Povo a interrogar os tempos antigos, para, na obra da criação, descobrir as marcas da presença atuante de Deus, presença esta que se torna muito mais visível na epopeia da libertação do Egipto e na constituição de uma aliança com o Povo eleito. O próprio Moisés adianta as conclusões: de facto, não há outro Deus e o cumprimento das suas leis e mandamentos é o único caminho seguro para a prosperidade e a felicidade. Com efeito, olhos de contemplar é o que mais falta nos faz para, na beleza da obra da criação, composta pela harmonia da diversidade, lermos o jeito ‘trinitário’ de ser e de atuar do nosso Deus!
Paulo, por sua vez, recorda-nos, no texto da segunda leitura, que Deus não se limitou a dotar o ser humano de espantosas capacidades, hoje bem manifestas nos prodígios da ciência e da técnica, mas, depois de criados à sua imagem e semelhança, nos deu a possibilidade de vivermos como filhos seus, infundindo em nós pelo Espírito Santo “o espírito de adoção filial”.
É evidente que esta viagem só podia ser feita com segurança na companhia de Jesus, pois “ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o der a conhecer”. Por isso Ele é o Caminho obrigatório para a Verdade plena e a Vida verdadeira. Para isso, Ele montou a sua tenda no acampamento dos homens e subiu ao céu para estar junto de todos nós, através do envio do Seu Espírito.
Pelo texto do evangelho, a Liturgia recorda-nos que a fonte da missão está exatamente no seio da Trindade. De facto, só aqueles que mergulham nas águas desta nascente podem encarar a missão não como uma tarefa a desempenhar, mas como uma paixão a abraçar. Com razão, pois, João Paulo II afirmava, na ‘Redemptoris Missio’, que os missionários precisam de ser contemplativos: “o missionário deve ser ‘um contemplativo na ação’. Se não é contemplativo, não pode anunciar Cristo de modo credível. Ele é [leia-se: tem de ser] uma testemunha da experiência de Deus” (RM, 91).
Comecemos, pois, por honrar o nosso Deus, Trindade Santíssima, fazendo sempre bem e com respeito o sinal da cruz, para e em (con)sequência, procurarmos com empenho preencher toda a nossa vida deste ‘espírito de adoção filial’ e desta ‘marca’ trinitária!
Glória ao Pai, glória ao Filho, glória ao Espírito Santo!