No passado dia 27 de março, mesmo à entrada na Semana Santa, os Jovens Sem Fronteiras da região Douro convidaram os Harpa Dei para uma noite de música e testemunho. Esta atividade insere-se no âmbito do “Faith talks”, de uma iniciativa dos JSF daquela região que promove a reflexão e partilha on-line para jovens, em tempo de confinamento. O encontro aconteceu através da plataforma zoom e foi, ao mesmo tempo, transmitido através do youtube.
Irmãos de sangue e espírito
Os Harpa Dei são um grupo de irmãos, um rapaz e três raparigas. São irmãos “tanto de sangue como em espírito”, ou seja, têm os mesmos pais biológicos e partilham a mesma caminhada espiritual. Os seus nomes são Marie-Elisée, Nikolai, Lucia e Mirjana Gerstne. São alemães, mas cresceram no Equador, onde seus pais foram missionários. Têm ainda outros quatro irmãos de sangue e um adoptivo.
O Nikolai e a Lucia pertencem a uma comunidade de consagrados chamada Agnus Dei. Marie-Elisée e Mirjana fazem parte da família que rodeia a comunidade, partilhando a mesma espiritualidade. Cada um foi sentido o chamamento a uma relação mais íntima com Deus de formas e alturas diferentes. Marie-Elisée, a mais velha, foi percebendo que só poderia ser feliz no serviço. Fez um ano de voluntariado em Israel, trabalhando num orfanato para crianças desfavorecidas. Sentiu-se atraída pela vida espiritual, visitando os lugares santos, aprofundando a sua fé e conhecendo a comunidade que a acolheu. Desde então, entregou-se a Deus dentro daquela família. Já lá vão 13 anos.
O Nikolai sentiu-se chamado ao sacerdócio, quando vivia no Equador. Um ano mais tarde, encontrou-se com a sua irmã mais velha num mosteiro da Alemanha. Ali viveu vários anos de vida recolhida, de oração e adoração ao Santíssimo Sacramento, parte essencial daquele mosteiro onde se faz adoração perpétua.
Um a um, foram contando a forma como se foram “contagiando” com os seus testemunhos e como Deus, de forma misteriosa, os foi atraíndo a Si. Foram intercalando o seu testemunho com várias músicas. Uma delas foi o Pai Nosso em aramaico – a língua que Jesus falou na terra – que aprenderam de um bispo sírio, em Jerusalém. É a canção com que mais se identificam.
Contemplação e missão
A sua vida assenta, em primeiro lugar, na contemplação. Rezam muitas horas ao dia. Vivem uma vida simples e pobre, fazendo trabalhos manuais. Cozem o seu próprio pão, preparam a lenha para o aquecimento, procuram fazer uma vida próxima da natureza.
Também se dedicam ao apostolado, sobretudo através da música. Podemos visitá-los no youtube ou na sua página harpadei.com. O irmão Elias – o pai espiritual da comunidade – escreve meditações diárias sobre uma passagem da liturgia do dia, que eles traduzem e acompanham as meditações com a sua música.
Têm também um grande compromisso junto dos mais desfavorecidos. Viveram muito tempo no Congo, no interior da floresta, junto dos pigmeus, num verdadeiro trabalho de primeira evangelização. Hoje, mantém um projeto com crianças órfãs naquele país africano, para onde encaminham grande parte dos donativos que recebem. Na Alemanha, dedicam-se muito ao movimento pró-vida, apoiando mulheres e famílias em dificuldade perante a gravidez. No seu mosteiro, tem um espaço especial, a “Gruta de Raquel”. Nesse espaço, mulheres que abortaram e se arrependeram são convidadas a dar um nome ao filho que não nasceu. O seu nome é escrito e colocado num memorial, que os tira do anonimato e lhes dá uma espécie de sepultura espiritual. É uma experiência muito sanadora para as pessoas, e reconciliadora: consigo, com o filho e com Deus.
Evangelizar pela música
Desde pequenos que se habituaram a rezar cantando. O coro Harpa Dei nasceu a partir de um desafio que lhes foi lançado no Equador, em 2012. O país sofria por causa da violência. Então a comunidade organizou uma campanha de oração contra a violência. Assim, queriam propor a oração como arma contra o mal, contrapondo a fealdade do mal com a beleza de Deus. Depois, na sua missão no México sentiram ainda mais fortemente o apelo a evangelizar através da música. Antes da pandemia, passavam 10 meses por ano em missão, em vários países, sobretudo no México. E perceberam quanto as pessoas, de todas as idades, são sensíveis à música espiritual, e como o canto gregoriano nos ajuda a criar comunhão com o transcendente.
Na sua oração, destacam o valor da liturgia. E, nessa liturgia, a importância da música adequada, seja para a Eucaristia, seja para a Liturgia da Horas. Neste sentido, procuram ir ao encontro das raízes. “Quando cantamos uma música de há muitos séculos, imaginamos quantos santos não terão cantado a mesma melodia… temos uma história que Deus escreveu com a sua Igreja”.
O serão continuou, com muita música e espaço de diáloco com o grupo.