3º Domingo da Páscoa
Foi verdadeiramente de alto risco a decisão tomada pelo Ressuscitado de só se manifestar a alguns e de colocar nas suas mãos a divulgação do Seu triunfo sobre a morte! Aliás, já não tinha sido tarefa fácil convencê-los de que era Ele mesmo que se apresentava diante deles, com as marcas bem visíveis da paixão: até teve de comer diante deles! E, mesmo assim, a ‘volta’ só foi conseguida com a força do Espírito Santo, sobre eles derramado sob a forma de línguas de fogo.
E mais complicado ainda é que esta missão seja desempenhada hoje por aqueles que, como nós, “acreditaram, sem terem visto”: como poderão eles testemunhar o que não presenciaram e como é que poderá ser aceite o seu testemunho?
A resposta só poderá ser encontrada no Livro dos Atos dos Apóstolos, onde se podem descobrir os caminhos percorridos pelos primeiros cristãos e pelas comunidades que eles formaram. Daí a importância deste Livro para as comunidades cristãs de todos os tempos e latitudes.
De facto, não fora o novo estilo de vida por eles adotado; não fossem os novos valores, pelos quais passaram a pautar as suas vidas; não fora aquela fé que “vence o mundo” e não sei onde, a estas horas, estaria a Ressurreição de Cristo!
Por isso, a afirmação de Lucas de que “eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, às orações e à fração do pão”, de que “tinham um só coração e uma só alma” e “punham tudo em comum” não é apenas o retrato de família para ficar exposto em lugar nobre da casa – à semelhança do da última ceia -, mas o modelo e o programa também para as igrejas e comunidades de hoje.
E, aqui chegados, há que ter a coragem de nos interrogarmos se os homens de hoje conseguem descortinar nas nossas comunidades algo que aponte para este modelo.
Com efeito, se não vamos por este caminho, andaremos a construir “páscoas de nadas” e o mundo continuará privado daquilo a que tem direito: que sejamos testemunhas coerentes e credíveis de Cristo Ressuscitado, de tal modo que O vejam vivo e atuante em e através de nós!
Mesmo que a maior quota de responsabilidade do êxito pertença ao ‘sócio maioritário’ – o Espírito Santo, que “Deus dá sem medida” – não podemos escusar-nos ao nosso contributo, por mais pequeno que ele nos possa parecer!
Assim como, a partir da receção do Espírito Santo, nada nem ninguém conseguiu deter os primeiros discípulos nos caminhos da missão de anunciar em todos os lugares e ambientes a Boa Nova de que Jesus venceu a morte, que nada nos impeça de trilharmos, nós também, os caminhos do anúncio corajoso e infatigável do Senhor Jesus Ressuscitado, mas sempre autenticado pelo testemunho da nossa vida!