Família
O P. Joaquim Pereira Francisco, filho de Manuel Francisco e de Emília de Jesus Pereira, nasceu a 25 de junho de 1943, no lugar da Opeia, freguesia da Caranguejeira, concelho e diocese de Leiria. Dos 4 filhos do casal, é o terceiro. Fez os estudos Primários na escola da sua terra natal.
Congregação, em Portugal
Entrou no seminário dos Padres da Congregação do Espírito Santo, em Godim-Régua, no dia 2 de outubro de 1954. Aluno aplicado, sempre mostrou vontade forte. Muito trabalhador. Simples. Franco. Jovial. Daqui passou para o seminário do Fraião, terminando a sua formação académica em 1968, com o Curso de Filosofia e Teologia. Em 1962, e a terminar o ano de noviciado, fez a sua Profissão Religiosa, no seminário da Torre d’Aguilha, a 8-3-1963. Aqui, fez parte da equipa dos “arboricultores” dos terrenos agrestes, ventados, despidos de vegetação e casario, do seminário da Torre d’Aguilha que, nas horas vagas, de pá e picareta, ajudaram a transformar aquele pequeno deserto em oásis. Foi ordenado sacerdote a 6 de julho de 1968, no seminário da Congregação do Espírito Santo, na Torre d’Aguilha, em São Domingos de Rana, Cascais.
Missão em Angola
A 30-10-1968 embarcou para Angola, onde foi missionário, de 1968-1974. Com destino à diocese de Sá da Bandeira, hoje Lubango, foi para o seminário do Jau-Lubango, como professor. Este seminário, embora da diocese, era orientado pelos espiritanos. Em outubro de 1969, foi para a Missão Católica da Mupa, no sul de Angola, Província do Cunene. A saúde abreviou a sua estadia, nestas terras do Cuanhama e junto ao rio Cuvelai. Um ano depois, em 1970, regressou a Sá da Bandeira (Lubango), onde prestou assistência religiosa, na Sé. Em 1972 voltou ao seminário do Jau, para ser professor e, em 1973, ainda voltou ao Cuanhama, à Missão de Cafima.
No seminário do Jau-Lubango e com as lições do seu confrade P. José Maria de Azevedo Moreira, aprendeu, rapidamente, a técnica das “Palavras Cruzadas”. Em 2011 inicia a sua colaboração no jornal “Ação Missionária”, publicando, mensalmente, o “problema” e a “solução”, das suas palavras cruzadas, feitas com arte e saber, usando a régua, o esquadro, a esferográfica e o computador. Desde 1969 até 2020, elaborou mais de 3 mil problemas e soluções, em quadrículas de palavras cruzadas. O “bichinho” entrou e ficou. Por isso, ainda há muito grão desta semente, no seu celeiro digital. A sua última colaboração, em palavras cruzadas, data de novembro de 2020, com a sigla “CSSp” da Congregação do Espírito Santo de que era membro e que, dada a doença, não pôde completar. Alguém, a seu pedido, a completou.
Com a independência de Angola, a 11 de novembro de 1975, regressou a Portugal, como tantos outros espiritanos.
Em 1976, foi enviado para o Brasil, para Rio Bonito, onde já havia outros confrades. Um ano depois, em 1977, voltou a Portugal.
Missão, na América
Em julho de 1980, seguiu para Providence-Estados Unidos, onde já trabalhavam espiritanos, regressando à Província, em 1982.
Em fevereiro de 1985 é nomeado para a igreja do Imaculado Coração de Maria, em Central Falls, Estados Unidos da América, para a comunidade dos imigrantes de Cabo Verde e, no Santuário de nossa Senhora de Ludlow, onde residem muitos imigrantes portugueses, presta os seus serviços pastorais. A sua missão, por terras americanas, iniciada em 1980, termina em 1997, ano em que regressa definitivamente a Portugal.
Missão, em Portugal
Depois de vir do Brasil, em ano sabático, na família, o Sr. Bispo de Leiria, D. Cosme Amaral, pediu-lhe para assegurar o serviço religioso na paróquia da Caranguejeira, até ser nomeado um novo pároco. O P. Joaquim Pereira Francisco assumiu este compromisso de 15 de janeiro a 9 de abril de 1978. Depois de regressar dos Estados Unidos, em 1982, aceita trabalhar na diocese de Beja, sendo nomeado pároco de Alvalade do Alentejo (1982-1983). Já na Província, em 1997, é colocado no seminário do Fraião, em Braga, para colaborar com os confrades na pastoral e no apoio aos confrades doentes e idosos, conduzindo-os ao médico. Assumiu a capelania na residência das Irmãs de S. José de Cluny, em Nogueiró, em Braga. A todos procura servir com disponibilidade, paciência, dedicação e compreensão, granjeando a simpatia de todos. A sua presença na comunidade do Fraião não foi longa e, nas horas vagas, também se dedicava a fazer terços, como ajuda à obra missionária.
Em 2010 colabora na pastoral e vida da comunidade, no seminário de Godim.
Em 2010 é nomeado para a comunidade da Torre d’Aguilha, para a pastoral. Aqui e nos tempos livres, além de tecer o arame para os terços, ajudou na arborização e limpeza do espaço ajardinado e florestado do seminário, cuidando da pequena e nova mancha de pinheiros mansos, no antigo campo de futebol. Aqui passava longas horas, a cortar, a podar e a derramar os pinheiros, libertando-os de tudo aquilo que os atrofiava e impedia de crescer livremente. Em tarde de verão, no regresso destes trabalhos, uma criança de seis anos, sabendo que ele era padre, ao vê-lo de serrote e tesoura em punho, com nódoas de resina e barro na roupa, mirando-o de alto a baixo, perguntou: “Também dás missa?”
Em 2018, a saúde deu alguns sinais de fragilidade. Por isso mesmo, pediu para que a celebração das suas Bodas de Ouro Sacerdotais não tivessem qualquer sinal exterior, quer na comunidade quer na família. Assim aconteceu.
Seguia com atenção o evoluir da Província, fazendo as suas pessoais observações. Não gostava de ver qualquer ser humano ofendido. Pavonear-se não era seu o jeito de viver e não o apreciava nos outros. Colaborou, anos a fio, na expedição de embrulhos da editorial missionária. Dedicava muito do seu tempo à leitura nacional e estrangeira, inglês sobretudo. Era um bom tradutor de inglês para português, seguro e credível. A sua caligrafia uniforme, clara e legível, nos textos e cópias musicais, era única. Bem disposto e conversador, o P. Joaquim Pereira Francisco era conhecido por P. Francisco, P. Chico e P. Quim Rei, este mais familiar e do avô paterno.
Uma intervenção cirúrgica, em 2020, para remover dois tumores do intestino, apressaram a sua dependência pessoal e comunitária. Não perdeu a serenidade. A sua confiança na vontade de Deus, manteve-se e edificava. Nos últimos dias do ano 2020, recolhido no seu leito, recebia, diariamente, a Sagrada Comunhão e, por fim, a Santa Unção.
Em janeiro de 2021, às palavras segredadas por um confrade: “Estamos a viver, na terra, os nossos últimos dias, preparando-nos para viver novos dias na eternidade com Deus que nos ama, nos abraça e nos acolhe”, respondeu com voz clara e serena: “Que seja depressa”. E à pergunta: Está cansado? Respondeu: Estou a pensar.
Do seu quarto, na Torre d’Aguilha, foi levado para Idanha, para o hospital das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus. Estadia breve. No Hospital, depois de ter testado positivo do Covid 19 e vitimado por doença oncológica, veio a falecer, pelas 6 horas da manhã do dia 14 de janeiro de 2021. Previsto o velório e missa de corpo presente, no seminário da Torre d’Aguilha, nada se pôde realizar. O tempo de pandemia, o confinamento e o boletim clínico, ditaram: “O seu corpo seguiu, do hospital, diretamente para o cemitério dos Soutos, na Caranguejeira, onde foi sepultado e com número reduzido de familiares”. Assim aconteceu às 15 horas do dia 15, seguindo-se, na igreja dos Soutos, a celebração da Eucaristia, agradecendo a Deus o dom da vida e a missão sacerdotal do nosso P. Joaquim. Enquanto nos solidarizamos com os seus familiares, agradecemos a todos quantos dele cuidaram ao longo da sua doença. Deixou-nos aos 77 anos de idade, com 58 anos de vida espiritana e 53 anos de vida sacerdotal. A Deus Pai o entregamos. “Quem morre como o trigo, faz seara”. (advento, hino hora intermédia).
P. João Mónico