Irmã Olga Fonseca
das Missionárias do Espírito Santo
Queridas Irmãs e Queridos Amigos,
Hoje, dia da Epifania do Senhor, nós nascemos, fundadas por um pequeno núcleo : Eugénie, Élise e Lucie. Três jovens cheias de audácia, de determinação e repletas de esperança naquilo que o Senhor tinha dito a uma delas, à Eugénie, «A Obra será bem sucedida. Desejo-a de todo o meu coração». (Cf. A minha vocação, Coleção Espiritana 3, página 54).
E a palavra de Deus deste dia da Epifania do Senhor nos diz com clareza que «Todas as nações são admitidas à mesma herança, são membros do mesmo corpo, associadas à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho». (Cf. Efésios 3, 2-6).
Cem anos depois da Fundação, esse dia de graça, que dizer desta aventura humana e de fé? De facto, para Deus nada é impossível.
Nascemos em 1921, véspera da Epifania do Senhor, o combóio pára em Farschwiller. Uma pequena aldeia da Lorraine. Na estação, os Padres Espiritanos da comunidade de Neufgrange, Clauss e Karst, o Páraco e o Padre Pitz, padre originário de Farschwiller, as esperavam. O Padre Karst disse-lhes com carinho : «Minhas eleitas, sejam bem-vindas».
Depois, diante da igreja paroquial, as Irmãs de Saint Jean de Bassel com as crianças da escola e muitas outras pessoas da aldeia as acolhem. O Padre Karst, com alegria e emoção, deseja às três jovens as boas-vindas, chamando-as a serem as bases dum novo edifício e ele explica à multidão que estas jovens vieram para se preparar a serem Irmãs missionárias.
Igualmente, o Padre Eich, que as acompanhou desde Bouzonville, as apresenta. De seguida, o Padre Karst dirigindo-se novamente às três diz-lhes : «Doravante, muitos povos da África contam convosco, com a vossa fidelidade, nenhuma dificuldade vos fará recuar».
O Padre Clauss transmite a benção do Dom Le Roy, Superior geral dos Espiritanos, que se encontrava nesse momento em Roma, e entrega à Eugénie um envelope da parte do Senhor Bispo com 500 Francos. Perante este gesto a Élise, contando mais tarde, exclama, «Foi toda a nossa fortuna».
Em casa, num cantinho do corredor, elas instalam um pequenino presépio. Eis o primeiro oratório da Congregação.
Nesse dia fazia muito frio e húmido, e elas estavam mortas de cansaço. Na obscuridade da noite, as cenas da partida passavam pelas suas mentes. Mas diante delas se erguiam a vontade de Deus e a fidelidade a esta nova Obra.
Na manhã do dia seguinte, Epifania do Senhor, as três jovens vão à igreja paroquial. O Padre Eich as espera frente à porta da igreja e diz-lhes : «Então, comprometem-se para sempre?». «Sim para sempre», respondem. Pela primeira vez a Eucaristia as une em comunidade. Eis o novo Instituto começado.
«Espírito Santo iluminai-me para que eu faça a santíssima vontade do Pai. Que a Obra se faça como Deus a quer. Ela está começada, vós levareis tudo a bom termo».
Ir. Eugénie Caps
Desde o início do do Instituto, a Irmã Eugénie nos ensina a rezar numa dócil confiança e num abandono sem falhas : «Espírito Santo iluminai-me para que eu faça a santíssima vontade do Pai. Que a Obra se faça como Deus a quer. Ela está começada, vós levareis tudo a bom termo». (Cf. Diário da Irmã Eugénie Caps, 15 de janeiro de 1921.)
A Irmã Eugénie explica-nos como é que ela sentiu o apelo do Senhor, que para ela foi claro e preciso, «A ideia das missões e duma nova fundação estava sempre diante de mim como sinal da vontade de Jesus. Para mim, já não se tratava mais de tatear, hesitar, mas de agir». (Cf. Notas da Irmã Eugénie Caps ao Padre da Cruz)
Todas nós conhecemos a história do começo do nosso Instituto. Uma história que vai de mãos dadas com o itinerário humano e espiritual da nossa Fundadora. «As Missões me atraem e eu quero fazer a santíssima vontade de Deus. Acredito que a faço começando, em união com as minhas Irmãs em Jesus, uma nova obra. Uma nova Congregação das Irmãs missionárias por nossa conta, independente de todas as outras congregações». (Cf. Diário da Irmã Eugénie Caps, 31 de outubro de 1919)
A Irmã Eugénie aprende pouco a pouco a despojar-se de tudo o que a entulhava, para que a vontade do Senhor tome nela todo o lugar. E é assim, muito simplesmente, que ela deu uma alma à Congregação nascente. «Nós não somos nada. Por esta Obra, colocamo-nos inteiramente nas mãos de Jesus, Maria e José ! A nossa confiança é grande e esperamos contra toda esperança». (Cf. Diário da Irmã Eugénie Caps, 26 de novembro de 1919). Ela acreditou na Providência, ela seguiu o sopro do Espírito sem nunca olhar para trás, ela confiou ao Coração de Maria o seu sim a Jesus, ela escolheu São José como «o seu homem de negócios» e ela abraçou a vontade de Deus sem cessar, mesmo no meio da obscuridade do inesperado.
A Eugénie se deixa modelar pela Palavra de Deus, o seu coração se dilata ao meditar os escritos do Padre François Libermann. E é nele, Libermann, que ela encontra palavras para dizer o que ela trazia dentro dela, desde 1915, no mais profundo dela mesma. Sua espiritualidade a ele, é a dela. Uma espiritualidade centrada na docilidade ao Espírito, no despojamento de si, no abandono a Jesus, na confiança ativa, na disponibilidade ao serviço da missão e na Esperança iluminando todo o caminho. A Irmã Eugénie é trabalhada do interior pela Cruz e pela Missão, quer dizer pelo mistério pascal. A sua vida se gasta generosamente, sem condição, pelo Senhor.
E depois a nossa fundadora desapareceu discretamente, tinha apenas 38 anos, 10 anos após a fundação. Mas o essencial permanece. Aí está tudo. Nós somos a memória e a herança, somos o presente e o futuro. Cabe a nós e somente a nós percorrer o resto do caminho, seguindo o sopro do Espírito, lá onde Ele quiser conduzir-nos. E lembremo-nos com alegria, tudo começou na Epifania de 1921, três jovens, numa pequena aldeia de Farschwiller, o Evangelho além-fronteiras, anunciado às nações.
É bem verdade, na nossa história, passamos muito tempo a legitimar o lugar da Irmã Eugénie Caps como fundadora da Congregação, por vezes procurando para ela um lugar. Hoje, já não estamos nessa fase, esse combate acabou. A Irmã Eugénie Caps é a fundadora das Irmãs Missionárias do Espírito Santo, todas nós o sabemos e a acolhemos. Este capítulo da nossa história é arquivado.
E agora, com o Senhor, juntas, com orgulho na nossa história, abrimos uma nova página neste primeiro Centenário da Fundação. Descobrimos e aprofundamos mais ainda o itinerário espiritual da Irmã Eugénie em relação com o do Padre Libermann.
Demos graças ao Senhor pelo passado do nosso Instituto e pela vida missionária das nossas Irmãs mais velhas. Demos graças pelo presente e pelo futuro.
Sim, neste momento, nesta Eucaristia, digamos o nosso muito obrigada ao Senhor, digamos-Lhe toda a nossa gratidão. Juntas, «demos graças ao Senhor com a harpa, ofereçamos-lhe música com lira de dez cordas. Cantemos-lhe um cântico novo, toquemos com arte na hora da ovação. Os planos do Senhor permanecem para sempre, os projetos do seu coração para todas as gerações». (Cf. Salmo 32 (33))