30º Domingo do Tempo Comum
O ‘slogan’ “dois [ou mais, até] em um”, em voga na publicidade consumista, é uma forma de aliciar as pessoas a comprar mesmo aquilo de que não precisam, a pretexto de que sai mais barato.
A mensagem deste domingo pode resumir-se numa frase semelhante, mas ao contrário: “um em dois”. E não se trata de publicidade enganosa, mas de nos apresentar o amor a Deus e o amor ao próximo como as duas e inseparáveis dimensões do verdadeiro amor!
Com efeito, já desde o Antigo Testamento, a relação com os outros constitui uma dimensão essencial. Por isso, no livro do Êxodo, depois do “Escuta, Israel: amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu espírito”, encontramos o texto escutado na primeira leitura de hoje: “não prejudicarás o estrangeiro, nem o oprimirás”; “não maltratarás a viúva, nem o órfão”, bem como outras semelhantes: “não serás usurário ao emprestar dinheiro ao pobre que vive junto de ti; não reterás a capa que recebeste como penhor”. E o salmista proclama o nosso Deus “Pai dos órfãos e das viúvas” (Salmo 67), que “protege os peregrinos” (Salmo 145).
Por sua vez, Cristo, ao afirmar que “o segundo é semelhante” ao primeiro, torna-os de tal modo inclusivos, que um não é possível sem o outro. E isto é tão válido em relação a Deus como o é igualmente em relação ao amor do próximo, o que levou S. João a afirmar: “quem diz que ama a Deus, que não vê, e não ama o seu irmão, que vê, é mentiroso” (1Jo.4,20).
É evidente que é possível fazer-se bem ao outro, sem uma referência explícita a Cristo, mas, o verdadeiro amor, à medida de Cristo – “como Eu vos amei” -, esse não é possível sem Cristo.
E, sobretudo, o amor ao mais desprotegido, ao mais pobre, ao mais fraco, sobre o qual não podemos ter qualquer espécie de interesse. Foi por aqui que o nosso Deus sempre se definiu, proclamando-se seu defensor: “se lhes fizerdes algum mal e eles clamarem por Mim, escutarei o seu clamor; inflamar-se-á a minha indignação e matar-vos-ei ao fio da espada”.
E os caminhos da Missão passam também por aqui. Esta é a Palavra autêntica, que precisa de ressoar nos quatro cantos do mundo, sobretudo através das nossas atitudes e ações, pois, sem elas, seremos como os sinos, que convocam os fiéis para as igrejas, mas eles ficam sempre da parte de fora!
O Papa Francisco, na ‘Alegria do Evangelho’, escreveu: “Peçamos ao Senhor que nos faça compreender a lei do amor. Que bom é termos esta lei! Como nos faz bem, apesar de tudo amar-nos uns aos outros! Sim, apesar de tudo! A cada um de nós é dirigida a exortação de Paulo: «Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem» (Rm 12, 21). E ainda: «Não nos cansemos de fazer o bem» (Gal 6, 9). Todos nós provamos simpatias e antipatias, e talvez neste momento estejamos chateados com alguém. Pelo menos digamos ao Senhor: «Senhor, estou chateado com este, com aquela. Peço-Vos por ele, por ela». Rezar pela pessoa com quem estamos irritados é um belo passo rumo ao amor, e é um ato de evangelização. Façamo-lo hoje mesmo. Não deixemos que nos roubem o ideal do amor fraterno”! (nº 75)