30º Domingo do tempo Comum
Se há algumas pessoas que dizem rezarem muito, a maior parte de nós reconhece facilmente que não reza o suficiente ou que reza pouco. No entanto, na oração o mais importante não é a quantidade, mas sim a qualidade!
Com efeito, a probabilidade de, em qualquer livro de espiritualidade – seja de que religião for – encontrarmos mais páginas dedicadas ao tema da oração do que nos Evangelhos é bem elevada. E se passarmos para o número de orações aí apresentadas, a probabilidade é ainda maior! Apesar disso, o ensinamento dos quatro evangelhos sobre este tema é riquíssimo e fundamental.
Jesus fala-nos de uma oração ‘pagã’, baseada na quantidade de palavras e de orações longamente ‘bichanadas’. Fala-nos da oração ‘farisaica’, feita de peito aberto, como que querendo impor-se a Deus, já que se julga muito acima dos outros. Os evangelistas falam-nos até do desejo dos discípulos de Jesus em poderem impressionar os outros com orações novas.
Mas a oração, feita ao jeito de Jesus, é diferente e nova, mas por outros motivos. Antes de mais, porque é feita a um Deus que “sabe do que precisais antes de vós Lho pedirdes” (Mt. 6,8) e que vela por nós mais que o melhor dos pais; porque sabemos que “a oração do humilde atravessa as nuvens e não descansa enquanto não chega ao seu destino”. Este estilo de oração está exemplificado no publicano do evangelho deste domingo, que “desceu justificado para sua casa”, não sucedendo outro tanto com o fariseu.
“Rezar sempre, sem desanimar” não significa, pois, estarmos sempre a bombardear Deus com os nossos pedidos, sempre de mãos postas ou desfiando terços atrás de terços, mas, sim, que precisamos de continuamente sintonizar o nosso coração com o coração de Deus e de acertar pelo d’Ele o nosso passo, para sermos realmente filhos seus.
De facto, na verdadeira oração pedimos sobretudo “a graça de consagrarmos sempre ao serviço de Deus e dos irmãos a dedicação da nossa vontade e a sinceridade do nosso coração” – assim rezávamos ao longo da semana que agora terminou. É esse o testemunho que nos dá S. Paulo, na segunda leitura, ao afirmar que combateu o “bom combate”, porque o Senhor esteve sempre a seu lado e lhe deu “força para que a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada”.
S.to Agostinho, na sua famosa Carta a Proba, escreveu que “a própria Vida verdadeira nos ensinou a orar; mas não nos ensinou que devíamos pronunciar muitas palavras, como se fôssemos tanto mais facilmente atendidos quanto mais loquazes nos mostrássemos, porque na oração, como diz o próprio Senhor, dirigimo-nos Àquele que sabe perfeitamente o que nos é necessário, mesmo antes de Lho pedirmos.
Assim, havemos de orar na fé, esperança e caridade, exercitando continuamente a nossa vontade. Mas devemos orar também com palavras em certas horas e circunstâncias, para nos estimularmos a nós mesmos por meio destes sinais exteriores e, tomando consciência do próprio progresso que fazemos nestas santas aspirações, nos animarmos a fortalecê-las cada vez mais. Quanto mais ardente for o afeto, tanto maior será o efeito”.
Por isso, mais que nos preocuparmos com a quantidade de orações que diariamente fazemos, avaliemos a influência que elas têm no falar, no sentir, no reagir, na forma como nos relacionarmos com os outros – os de casa e os de fora. É por aí que podemos verdadeiramente medir a temperatura da nossa oração!