Nestes últimos tempos a Amazónia esteve no centro das atenções do mundo inteiro e não foi por boas razões. A preservação deste que é considerado um pulmão imprescindível para o mundo garantir a sua respiração presente e futura foi posta em causa com a divulgação de imagens reveladoras de um aumento anormal do fenómeno das queimadas e do desmatamento. Diga-se de passagem que houve também muito empolamento e aproveitamento político, a par de alguma desinformação, o que só serviu para complicar a procura de uma solução política que seja sustentável a longo prazo.
Para entender melhor esta situação, convém recordar que a Amazónia não é só no Brasil. No seu conjunto, ela é maior do que toda a Europa Ocidental, abrangendo 9 países sul-americanos e nalguns deles, como a Bolívia, por exemplo, o fenómeno das queimadas e desmatamento é também uma realidade preocupante. Só o Estado brasileiro do Amazonas, que ocupa o coração geográfico da Amazónia, é 17 vezes maior do que Portugal. Mas há ainda mais 8 Estados brasileiros na região amazónica.
Convém também saber que essa prática das grandes queimadas e respectivo desmatamento está ligada, em geral, ao agronegócio e à exploração madeireira ou mineral. Aqui, talvez por ser uma região mais húmida e a exploração agrícola se limitar, em geral, às pequenas roças de subsistência familiar dos ribeirinhos, essa prática não atinge as proporções preocupantes das regiões mais periféricas da Amazónia, a sul nomeadamente, com clima mais seco.
Mas isso não quer dizer que a situação não deva preocupar e melhorar. A própria Igreja Católica brasileira dedicou duas das últimas Campanhas da Fraternidade a esta problemática da proteção da natureza. As Campanhas de 2017 e 2018 tiveram como tema, respectivamente, “Casa Comum – nossa responsabilidade” e “Biomas brasileiros e defesa da vida”.
Mesmo se o problema nesta região não é tão grave, como referi acima, não deixa de ser também uma preocupação para a Igreja. Podemos realçar, aliás, que os missionários Espiritanos, que aqui estão presentes desde 1897, têm desempenhado um papel importante na educação e sensibilização do povo amazonense, não só para a proteção da floresta, mas também para a preservação dos rios e lagos, com a pesca manejada e controlada. Foi desse trabalho dos Espiritanos, aliás, sobretudo a partir dos anos 80, que nasceram as chamadas Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) e Reservas Extrativistas (RESEX) criadas pelo governo federal, em duas das quais, RDS Amanã e RESEX Catuá, eu sou conselheiro em nome da Prelazia de Tefé.
É evidente que há ainda muito a fazer neste sentido de garantir o futuro do planeta, sabendo que, se a proteção da floresta amazónica é importante, não é só aqui que essa preocupação deve existir. Cada árvore por esse mundo fora é um pulmão produtor de oxigénio. Há, pois, toda uma educação a fazer e uma política a formular e implementar. Vem a este propósito recordar o que o Papa Francisco escreveu na sua Encíclica “Laudato Si”: ““Toda a pretensão de cuidar e melhorar o mundo requer mudanças profundas nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder, que hoje regem as sociedades».
Esperemos também para ver o que o próximo Sínodo sobre a Amazónia, a realizar em Outubro no Vaticano, vai dizer sobre esta matéria.