17º Domingo do Tempo Comum
Os desafios relatados nos textos bíblicos que nos servem de proclamação da Palavra de Deus neste domingo, são insignificantes face aos tremendos desafios com que nos deparamos hoje: seja a fome a nível mundial, seja a guerra, sejam as injustiças sociais, seja a Sida, seja a pandemia COVID19, etc. Também por isso, a atitude mais comum perante eles é: “eu não os posso resolver!” – e é verdade!
Só que a grande lição desta Palavra de Deus é dizer-nos que não se nos pede que resolvamos todos os problemas do mundo, nem sequer um só deles, mas que nos coloquemos na atitude de, abrindo o coração e as mãos, darmos o nosso contributo, por mais pequeno que ele seja ou que assim nos pareça, para a sua resolução. O resto deixemo-lo para Aquele que até podia resolver tudo sozinho, mas nos deixa bem claro que é sobre os nossos ‘nadas’, sobre o nosso ‘pouco’ que ele acrescenta o resto – que é quase tudo!
Só que isto implica em cada um de nós uma grande mudança de mentalidade. Habituados como estamos à cómoda atitude de ignorar ou, quando muito, apontar problemas que os outros devem resolver, esta Palavra de Deus ‘obriga-nos’ a sermos parte da solução. Mas isso acarreta-nos desinstalação, compromisso, riscos, incertezas, más interpretações que, a todo o custo, queremos evitar.
A força que nos pode levar a esta mudança de atitude não a recebemos de uma ideologia, de um partido ou, simplesmente, de um sentimento filantrópico. S. Paulo recorda-nos que, porque “há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos e em todos Se encontra”, não podemos resignar-nos a uma atitude “política ou socialmente correta”, mas lançar-nos no caminho espinhoso do empenho na resolução dos problemas dos nossos irmãos, mesmo que aos nossos ouvidos sejam repetidos apelos amigos de sentido contrário, em nome da prudência…
A caridade, para a qual Bento XVI, nos convocava na sua encíclica “Deus é amor”, tem de revestir-se hoje de grandes doses de ‘fantasia’ e de ‘ousadia’, a maneira nova de viver “a que, pelo Batismo, fomos chamados” e que exige de nós, como de Jesus, que subamos, sozinhos muitas vezes, até ao coração daquele Deus que abre generosamente as suas mãos para saciar a nossa fome!
A partir daí, deixaremos de nos lamentar que não podemos resolver nada, para juntar o nosso ‘nada’ aos ‘nadas’ dos outros e ao garantido ‘muito’ do nosso Deus. Esta poderá ser mais uma lição que os nossos avós e idosos nos deixam em herança, dadas as dificuldades – muito mais numerosas e mais complicadas – que tiveram de enfrentar ao longo das suas vidas! Aprendamos com eles a abrir o nosso coração e as nossas mãos para também nós continuarmos a repartir!