O P. Daniel Brottier levava já treze anos de intenso trabalho e total dedicação à obra dos órfãos de Auteuil. Tinham passado, entretanto, vinte e cinco anos desde o dia em que se comprometera com Monsenhor Jalabert na construção da catedral-monumento de Dakar. Por fim, depois de muita luta e canseira, a consagração da catedral fora marcada para o dia dois de fevereiro de 1936. Mas a fadiga e a doença impediram-no de estar presente. O amigo leitor imaginará o quanto lhe deve ter custado não poder regressar à terra dos seus primeiros anos de vida missionária. Mas, de facto, os médicos foram perentórios: Não estava em condições de viajar para África. E não se enganaram, pois em breve Deus viria chamá-lo para junto de Si.
Não tendo podido ir à festa da consagração da catedral, decidiu celebrar missa de ação de graças na capela de Santa Teresinha, em Auteuil. Aos seus queridos órfãos, que em sua honra tinham organizado uma festa em segredo, proferiu estas belas e emocionadas palavras, que mostram a grandeza do seu coração e a profundidade da sua fé, e dispensam qualquer comentário:
«Meus amigos:
Não encontro palavras para exprimir o meu reconhecimento pela grande surpresa, que me destes esta manhã. Estou profundamente emocionado. Esta festa íntima e familiar dá-me mais alegria, mais felicidade que se eu tivesse acompanhado o cardeal a Dakar. Eu vo-lo digo, meus amigos, a felicidade encontro-a entre vós, vós é que me fazeis feliz! E, se, ao começar os meus vinte e cinco anos de trabalho pela catedral-monumento, me tivesse sido dado conhecer a alegria que vós me dais neste momento, isso me bastaria… Muitos se admiraram de eu não ter ido a Dakar, à busca de alguns louros. Já não estou na idade em que se buscam as honras humanas. E, a propósito de Dakar, posso-vo-lo afirmar, nem um só momento pensei na glória humana. Devemos ver em tudo o amor de Deus, que fez coincidir os acontecimentos para a realização da sua maior glória. Porque, meus filhos, é preciso que o saibais: se não fosse Monsenhor Jalabert e a Catedral de Dakar, não existiria a capela de Santa Teresinha. Eu não estaria aqui. Nem vós, meus queridos filhos… É por isso que, enquanto tivermos um sopro de vida, devemos bendizer a Deus, e cantaremos eternamente as misericórdias do Senhor…»