A saúde obrigou Daniel Brottier a regressar de novo a França. Mas é mais, caro leitor. Os médicos desaconselharam qualquer regresso aos climas tropicais. Cansado, abatido pela doença, Brottier sentiu o desejo de trocar a vida de ação apostólica pela vida de contemplação. Desejo, aliás, que já manifestara ao bispo de Dakar aquando da sua primeira vinda forçada pela doença a França, mas que não obtivera resposta favorável. Agora era ao seu superior geral, monsenhor Le Roy, que dirigia o pedido. E este respondeu-lhe assim:
«O pensamento que me manifesta é bastante frequente nos missionários mais ativos: o excesso de ocupações exteriores dá, em certos momentos, a obsessão da calma e do repouso. Sente-se a necessidade do silêncio, ao mesmo tempo que se sente a necessidade de pensar em si próprio. Será isto, porém, um sinal absoluto de vocação? Às vezes, talvez. Quanto a mim, caro padre, de bom grado veria orientar-se para a Trapa ou a Cartuxa este ou aquele confrade, se ele estivesse imbuído dessas ideias. Infelizmente, esses não pensam assim. E aqueles que nisso pensam, são precisamente os que a Providência talhou, visivelmente, para outra vocação. Vossa reverência, caro padre, nasceu para esclarecer e salvar almas, através do ministério apostólico; parece-me que seria cometer um pecado contra o Espírito Santo exortá-lo a esconder detrás duma porta os dons de missionário que Deus depositou em si».
Depois de lhe garantir que se a saúde não dava para viver em climas africanos, lhe seriam confiados outros serviços, o superior geral autorizou-o a passar uns dias de retiro na Trapa de Valsanto. O padre Brottier preferiu, contudo, ir para a Trapa de Lérins. O ambiente de silêncio e oração que ali encontrou, fê-lo escrever palavras que nos levariam a pensar que ele não sairia mais de lá: «Vive-se aqui sem intermediários entre o divino e a alma que mergulha no infinito: o céu deve ser qualquer coisa como isto».
Mas ele pediu um sinal ao Céu, para que ficasse de uma vez por todas claro se era aquela a vida em que Deus o queria. E o sinal foi-lhe dado. Ao fim de oito dias, escreveu ao superior geral: «Acabo de passar uma rude semana em luta com Deus, com o diabo, com os monges, etc. Agora acabou. Tenho, parece, tudo o que é preciso para ser um bom trapista, mas a minha saúde não parece querer adaptar-se a esta nova situação. Vi nisto uma indicação da Providência e creio inútil insistir, pelo menos por agora». Na verdade, como dirá mais tarde ao padre Pichon, a austeridade alimentar que ali se praticava não era compatível com a sua saúde.