Ainda! Dita assim como resposta a uma qualquer pergunta, a palavra soa a nova. Foi também assim que a recebi quando a aprendi com o povo macua, em Moçambique. Ali as pessoas espontaneamente repetem a resposta com o sentido de por enquanto não, mas na esperança, de que o que quer que tenha sido perguntado, chegue a realizar-se.
Ficou-me no ouvido e passei a gostar mais deste termo pelas possibilidades que nos dá, pela música com que é pronunciado, pela esperança que descobri nele!
Num contexto onde se vive um dia de cada vez, mas onde a esperança dá o tom, esta palavra ajudou-me a refletir que o nosso coração deve ir além daquilo que percecionam os nossos sentidos.
Assim acontece com o Natal!
Vivemos por estes dias o advento. Apressados. Tristes. Afadigados. Empanturrados. Esperamos Jesus, por vezes, sem a alegria, a atenção, a simplicidade, o amor que Ele nos vem ensinar.
Como nos retrata Tolentino Mendonça: “O amor é o caminho que nos leva à esperança. E esta não é uma espécie de consolação, enquanto se esperam dias melhores. Nem é sobretudo expectativa do que virá. Esperar não significa projetar-se num futuro hipotético, mas saber colher o invisível no visível, o inaudível no audível, (…). Descobrir uma dimensão outra dentro e além desta realidade concreta que nos é dada como presente. Todos os nossos sentidos são implicados para acolher, com espanto e sobressalto, a promessa que vem, não apenas num tempo indefinido futuro, mas já hoje, a cada momento. A esperança mantém-nos vivos. Não nos permite viver macerados pelo desânimo, absorvidos pela desilusão, derrubados pelas forças da morte. Compreender que a esperança floresce no instante é experimentar o perfume do eterno.”
Que o nascimento de Jesus, que preparamos, nos ajude a repensar a nossa relação com os outros, com a natureza, com o mundo no qual vivemos. Que nos ajude a viver cada dia lançando à nossa volta estas palavras e gestos de esperança fundamentados neste Jesus imagem de amor próximo e humilde. Que o nosso coração se trabalhe para sabermos viver a essência desta realidade concreta que nos é dada.
Que a exemplo deste Menino não cresçamos só em estatura, mas também na fé.
Já é Natal?
Ainda!
Mas pode ser se fizermos do nosso coração um presépio.
Marta Vilas Boas