«O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor dirija para ti o seu olhar e te conceda a paz» (Livro dos Números 6, 24-26)
Neste novo ano pastoral, na diocese de Braga, somos convidados a contemplar Maria e, nela, encontrar inspiração para melhor redefinirmos a nossa caminhada como cristãos, ou seja, encontrar cada vez mais Jesus nos espaços interiores e exteriores dos nossos dias… tendo como exemplo Maria.
Um ano para (re)aprender a contemplar… no barulho da multidão e no silêncio que nos fica da passagem desta mãe pela vida de Jesus e, como herança, pela nossa.
Não acontece muitas vezes um silêncio dar lugar a tanta literatura.
De Maria, a mãe de Jesus, o Evangelho diz-nos algumas coisas, estreitamente relacionadas com a infância de seu Filho, fica-nos, porém, o mistério do seu dia-a-dia, do seu sentir e do seu agir informal. Quase sempre relacionamos Maria com o silêncio, com a ausência de palavras. No entanto, Lucas acrescenta no seu Evangelho que Esta guardava muitas coisas no seu coração, apresentando-a assim, como um poço sem fundo do qual continuamente se podem tirar coisas novas.
De facto, a experiência demonstra que quando se procura nesse coração de Mãe, se aprende muito. Não são poucos os que ao largo destes quase dois mil anos, conseguiram contemplar através do coração de Maria, e de alguma forma transcrever para o papel pensamentos, orações e mesmo especulações mais ou menos piedosas de como seria o seu modo de agir. Assim, apesar de pensarmos, como S. Bernardo, que nunca falaremos o suficiente sobre Ela, são hoje poucos os autores que nos conseguem dizer algo, se não novo, pelo menos de forma nova. Podemos dizer que é uma porta tão fechada e tão amiúde franqueada pela imaginação criadora de poetas e novelistas que por vezes pensamos já ter sido dito tudo o que havia para dizer. Já sabemos o quanto deu de si, quer na festiva natividade ou na dramática Paixão, esta mãe tão silenciosa mas mais apregoada que alguma outra.
Devo confessar que não atrai muito a minha atenção os livros chamados marianos, por várias razões que não vale a pena aqui enumerar, mas existe uma que devo salientar, o demasiado endeusamento do comportamento de Maria, quase sempre apresentada como uma mulher inatingível, e a sua quase redução ao seu silêncio como modo de agir perfeito.
Maria não é grande em si mesma; é, na verdade, uma «mulher», verdadeiramente nossa irmã na sua condição de humana criatura. Não é grande em si mesma, mas é grande por ser a Mãe do Filho de Deus, e é aqui que ela nos ultrapassa, imaculada por graça, bem-aventurada, nossa mãe na fé e na esperança. Maria não é grande em si mesma; vem-lhe de Deus essa grandeza.
De Deus vem sempre um mundo novo, belo, maravilhoso. Tão novo, belo e maravilhoso, que nos cega, a nós que vamos arrastando os olhos cansados pelo chão.
Espero, neste tempo de especial esperança, o advento, que este novo ano pastoral seja de facto um tempo novo de encontro com Jesus presente em cada pessoa, tendo como exemplo o agir de Maria… sempre pronta a deixar os seus projetos para ir ao encontro, servir e acolher os que dela necessitavam.Que o nosso Deus faça chegar até nós tempo e modo para ouvir outra vez aquela saudação: «Feliz és tu porque acreditaste».
Fátima Monteiro