«Se um elogio da esperança tem hoje cabimento é o de uma esperança que aceita a prova de fogo da desesperança, e que se de alguma maneira a transcende, também a integra no seu próprio processo.»
José Tolentino Mendonça,
Esperar contra toda a esperança
Contra a corrente, contra tudo e todos que nos querem ofuscar, contra o stresse que estes dias por vezes nos impõem… o Natal é um acontecimento cheio de esperança, alegria e paz. É a grande expetativa gerada por Deus ao seu povo, por meio de seus profetas, em tempos difíceis e de crise moral, espiritual e política.
Nem sempre somos capazes de ver claro, e o nosso objetivo tende a desviar-se do alvo, da meta. Os profetas sempre foram os mensageiros da esperança e da alegria. Eles sabiam como incentivar as pessoas quando tudo parecia perdido e… que Deus as abandonara. Naquela época, assim como a nossa, a situação religiosa, económica e política era exasperante e angustiante; as pessoas viviam em condições sub-humanas, de dor, de frustrações, de crise moral, de abuso das autoridades e, finalmente, de pobreza. É nessas circunstâncias que o Messias é anunciado pelos sucessivos mensageiros, proclamando com grande alegria e júbilo.
Já passou muito tempo desde que o Salvador foi anunciado, muitos no seu tempo duvidaram ou simplesmente não acreditavam nas profecias. Depois de milhares de anos, podemos verificar que essas profecias foram cumpridas. O Esperado prometido nasceu e viveu entre nós para nos trazer um modelo de humanização, a personificação de um modelo de ser pessoa. O Criador cumpriu a Sua palavra, não abandonou a sua obra, a fidelidade é sua imagem de marca e, essa, é a nossa grande esperança! A esperança como certeza assente não na evidência, mas na fé de que a fidelidade de Deus não nos desilude.
“Deus veio ter connosco”, eis a grande BOA NOTÍCIA daqueles que com Jesus fazem a experiência do Reino! Deus veio ter connosco! O Evangelho de Jesus não é o ensinamento pelo qual aprendemos a “ir para o céu”, mas a Notícia, Boa, de que o Céu veio ter connosco! Deus vem, não para os piedosos e para os “santinhos”, mas para os pecadores e os famintos de Vida digna, livre, feliz.
Mas, a cada Advento/Natal é preciso não esquecer que o Senhor está connosco! Este anúncio, não é o anúncio da Vinda de um Ausente… um Ressuscitado, um Vivente no Espírito é sempre nosso contemporâneo, mas desejá-lo, procurá-lo, esperá-lo, descortiná-lo a vir permanentemente entre as nuvens dos nossos próprios dias, medos e problemas é a condição para uma experiência de Fé que dê qualidade verdadeira, sabedoria e beleza à nossa Vida.
Nós também somos os profetas do Senhor nestes tempos de hoje, portanto, devemos anunciar que Emmanuel continua connosco, que Ele nos chama a segui-lo, que Ele nos convida a compartilhar o nosso amor com aquele que sofre, com quem chora e geme de dor, em quem Ele está perdido e abandonado, em quem Ele não tem possibilidade de esperança.
Neste Natal, todos os cristãos devem realizar essa esperança, compartilhá-la com os outros, anunciando que todos os dias Jesus nasce em cada coração, em todos os corações… sem aceções…
Fátima Monteiro