Esta é uma realidade que toca as nossas consciências: 1,5 milhões de pessoas, oriundas da Eritreia, Nigéria, Sudão do Sul, Afeganistão, Iraque, Kosovo, Albânia, Paquistão ou Síria, pedem, nos nossos dias, para que sejam aceites na Europa, como exilados de guerra. E entre os requerentes de asilo estão 90 mil crianças não acompanhadas ou órfãs.
Nós, espiritanos, sentimos necessidade de agir concertadamente perante este desafio que é emergente, sobretudo depois da guerra do Iraque e que, infelizmente, continua a ser provocado pela irresponsável atuação das potências internacionais na Síria e noutros países económica e politicamente mais frágeis.
Para além da guerra, as assimetrias económicas (grandes diferenças de oportunidades e níveis de vida) mormente entre os países do hemisfério sul e a Europa, levam a que muitos seres humanos, na aspiração por uma vida mais digna, arrisquem tudo para entrar e ficar num país que lhes possa proporcionar mais segurança, prosperidade e futuro, pelo menos para os seus filhos. E embora a muitos lhes seja legalmente negada esta aspiração, quando não é aceite o pedido de asilo, não tendo condições de sair, seja para outro país, seja para o seu país de origem, permanecem na Europa em situação documental irregular, ou seja, sem residência autorizada.
Portugal não está entre os países mais procurados. Os refugiados procuram sobretudo os países do norte da Europa, mas temos entre nós 600 mil imigrantes, entre ao quais, alguns com característica de requerente de asilo porque fugiram da guerra, foram perseguidos ou porque, uma vez na Europa, não têm condições nem económicas nem humanas para regressarem aos seu países de origem.
Muitos imigrantes chegam até nós, hoje, oriundos dos países da Europa de Leste, África, Médio Oriente e Ásia depois de lhes ter sido negado um pedido de asilo noutro país da Europa.
Segundo testemunharam os espiritanos, delegados da comissão JPIC (Justiça e Paz Integridade da Criação) que se reuniu em Roma de 13 a 17 de Outubro, em certos países da Europa central, os imigrantes sentem-se intimidados, recusados pela sociedade civil e pelas autoridades. Na Holanda e Suíça a presença de imigrantes e refugiados é muito residual. Vários países construíram recentemente muros de arame farpado nas suas fronteiras e mantêm em cativeiros, milhares de imigrantes aguardando a possibilidade de os poderem expulsar. Por vezes, é o governo do país de origem que não os reconhece e não os aceita.
Em Portugal e Espanha não se verificam estas situações, também por não ser um país muito procurado. No nosso país, 50% dos imigrantes presentes em território nacional, residem na grande Lisboa. A maioria fora da cidade, nos concelhos de Sintra, Loures, Amadora, Odivelas e Barreiro. É destas áreas geográficas que o CEPAC (Centro Padre Alves Correia) recebe todos os dias imigrantes que procuram apoios a diversos níveis: na procura de emprego, formação, alfabetização, vestuário, oficinas de costura, alimentação, saúde e proteção jurídica, seja por questões de trabalho, direito de família e sobretudo para a regularização documental.
Obrigado à família espiritana que assumiu também esta obra na campanha de solidariedade deste ano pastoral. Bem hajam e Santo e Feliz Natal.
Ir. Manuel Carmo, o Diretor Técnico do CEPAC