Há um ano atrás, o tema ainda estava em todos os telejornais e a emoção movia a sociedade. Hoje, já não chama a atenção e as agendas mediáticas focam-se noutros temas. Começou a cair o manto do silêncio. Mas o drama dos refugiados continua vivo. O sofrimento de milhares de crianças, de homens e mulheres continua a habitar o nosso espaço. Vidas adiadas, de quem espera e desespera, de quem se divide entre a vontade de lutar e a tentação de desistir.
Do nosso lado, a nossa Europa continua em crise. Numa crise de solidariedade que nos desfigura e nos trai. Em muitos locais, o medo continua a ser mais forte que a coragem e a indiferença ganha margem à generosidade.
Entre nós, há quem contrarie esse destino. Trezentas e cinquenta organizações da sociedade civil, num gesto espontâneo de mobilização, perante o desespero de milhares que buscavam abrigo, constituíram, em setembro de 2015, a Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR). Esta rede informal, feita de vontades fortes e não temendo recursos escassos, gerou um programa de acolhimento de crianças refugiadas e suas famílias, que tem vindo progressivamente a acolher refugiados no nosso país. Numa lógica de proximidade, cada instituição assume-se como anfitriã de uma família de refugiados, cuidando, durante dois anos, de tudo o que a integração exige (alojamento autónomo, apoio na aprendizagem do português, integração das crianças na escola, de toda a família na saúde e dos adultos no mundo do trabalho). Hoje são já 65 famílias que beneficiam desta hospitalidade e estão mais 40 para chegar. Serão 600 pessoas, em breve. Claro que há dificuldades: da comunicação às partidas sem aviso prévio, dos preconceitos mútuos aos mal-entendidos. Só que, ao lado destas “pedras na engrenagem” há um sentimento indescritível de missão cumprida, de serviço gratuito e de sentido solidário, que anima estas instituições anfitriãs perante todas as inquietações e perplexidades.
Estes são exemplos da intervenção do que tem sido possível fazer. Mas há ainda mais tarefas à nossa espera. A mais urgente é ser capaz de aumentar a capacidade de acolhimento de famílias de refugiados, que estão à espera em campos ou centros na Grécia. Portugal pode fazer mais, pois está ainda longe de ter atingido sequer a sua quota de responsabilidade. Por isso, aqui deixamos o desafio: mais do que lamentarmo-nos, precisamos de (continuar a) lançar mãos à obra. Cada um/a de nós, pode desencadear à sua volta, junto da sua paróquia, movimento, instituto religioso, o impulso para acolher uma família e ajudá-la a recomeçar a sua vida. A solidariedade não pode esperar, nem, pior ainda, ser esquecida. É agora que é preciso acolher.
(Ver www.refugiados.pt para se tornar instituição anfitriã)
Rui Marques. Publicação conjunta MissãoPress