O Papa, na Encíclica ‘Laudato si’, está preocupado com a fraqueza da reação política internacional: ‘a submissão da política à tecnologia e à finança demonstra-se na falência das cimeiras mundiais sobre o meio ambiente. Há demasiados interesses particulares e, com muita facilidade, o interesse económico chega a prevalecer sobre o bem comum’ (nº53).
O Papa Francisco propõe um diálogo frutuoso entre a Ciência e a Religião. Os cristãos têm o dever bíblico de cuidar da natureza e de combater a pobreza: ‘nada e ninguém ficam excluídos desta fraternidade’ (nº92). A terra é herança comum e a propriedade privada está submetida à destinação universal dos bens.
Palavra de Deus
«Quando o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado por todos os seus anjos, há-de sentar-se no seu trono de glória. Perante Ele, vão reunir-se todos os povos e Ele separará as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. À sua direita porá as ovelhas e à sua esquerda, os cabritos.
O Rei dirá, então, aos da sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo.’
Então, os justos vão responder-lhe: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos? E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?’ E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: ‘Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.’
Em seguida dirá aos da esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o diabo e para os seus anjos! Porque tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, era peregrino e não me recolhestes, estava nu e não me vestistes, doente e na prisão e não fostes visitar-me.’ Por sua vez, eles perguntarão: ‘Quando foi que te vimos com fome, ou com sede, ou peregrino, ou nu, ou doente, ou na prisão, e não te socorremos?’ Ele responderá, então: ‘Em verdade vos digo: Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.’
Estes irão para o suplício eterno, e os justos, para a vida eterna.»
Mt 25, 31-46
Pelas pessoas, contra a miséria
A tecnologia, em si, é positiva e ajuda muito os humanos na luta contra os seus males. Mas o atual paradigma tecnocrático assenta no mercado livre e no domínio da tecnologia sobre a política e a economia. Cria um estilo de vida assente no consumismo e exclui os pobres. A cultura ecológica combate este paradigma tecnocrático: ‘renunciar a investir nas pessoas para se obter maior receita imediata é um péssimo negócio para a sociedade’ (nº128).
Francisco propõe uma ecologia integral que inclua claramente as dimensões humanas e sociais: ‘a imposição dum estilo hegemónico de vida ligado a um modo de produção pode ser tão nocivo como a alteração dos ecossistemas’ (nº144). Há que proteger as comunidades aborígenes.
A falta de habitação é grave. Os fracos transportes públicos também prejudicam os mais pobres. O princípio do bem comum devia ser sempre respeitado, como forma de combate às desigualdades e à exclusão social que vitima milhões de pessoas. Há ainda a urgência de olhar para as gerações seguintes, pois a terra que recebemos pertence também àqueles que hãode vir. O Papa cita os Bispos de Portugal: ‘o ambiente situa-se na lógica da recepção. É um empréstimo que cada geração recebe e deve transmitir à geração seguinte’ (nº159).
Há que mudar o atual estilo de vida para um mais simples, mais fraterno. Não queremos ficar para a história como uma geração irresponsável, mas antes generosa e ecológica.
Os países mais pobres precisam de políticas globais que erradiquem a miséria e promovam o desenvolvimento social dos seus habitantes: ‘precisamos duma reação global mais responsável, que implique enfrentar, contemporaneamente, a redução da poluição e o desenvolvimento dos países e regiões pobres’ (nº175).
Há que favorecer a agricultura das regiões mais pobres.
Pistas de Reflexão
- O Papa Francisco fala de um estilo de vida simples: como o podemos viver?
- Como preparamos condições de vida digna para quantos virão depois de nós?
Políticas e Espiritualidade Ecológicas
É necessário o diálogo e transparência nos processos de decisão. A Política não deve submeter-se à economia e esta não deve submeter-se às lógicas da tecnocracia (cf. Nº 189). Devemos aceitar consumir menos e ousar converter o modelo de desenvolvimento global: ‘trata-se simplesmente de redefinir o progresso. Um desenvolvimento tecnológico e económico que não deixa um mundo melhor e uma qualidade de vida integralmente superior não se pode considerar progresso’ (nº 194).
Há que credibilizar a política. Caso contrário, ninguém confia em práticas políticas marcadas pela corrupção e falta de boas políticas públicas.
O mundo precisa de mudar, abandonar o consumismo excessivo. Há que educar para criar uma cidadania ecológica: ‘a educação na responsabilidade ambiental pode incentivar vários comportamentos que têm incidência directa e importante no cuidado do meio ambiente, tais como evitar o uso do plástico e do papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias’ (nº 211).
O Papa quer que a formação dos Padres e Religiosos seja ecológico e sensível aos mais pobres. Pede-se um ‘regresso à simplicidade que nos permite parar e saborear as pequenas coisas, agradecer as possibilidades que a vida oferece sem nos apegarmos ao que temos nem entristecermos por aquilo que não possuímos (…). A sobriedade, vivida livre e conscientemente, é libertadora’ (nº 222). Francisco propõe oração antes e depois das refeições. É preciso voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos responsabilidade para com os outros e o mundo, valendo a pena a honestidade.
A ecologia integral proposta pelo Papa ‘é feita de simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração e do egoísmo’ (nº 230). Ao referir a civilização do amor, Francisco diz que o amor social é a chave para um desenvolvimento autêntico.
Pistas de reflexão
- Como podemos nós credibilizar a política no que diz respeito á ecologia?
- A proposta da construção de uma civilização do amor a que é que nos obriga?
Compromisso
Oração cristã com a criação
Nós Vos louvamos, Pai, com todas as vossas criaturas,
que saíram da vossa mão poderosa.
São vossas e estão repletas da vossa presença e da vossa ternura.
Louvado sejais!
Filho de Deus, Jesus, por Vós foram criadas todas as coisas.
Fostes formado no seio materno de Maria, fizestes-Vos parte
desta terra, e contemplastes este mundo com olhos humanos.
Hoje estais vivo em cada criatura com a vossa glória de ressuscitado.
Louvado sejais!
Espírito Santo, que, com a vossa luz,
guiais este mundo para o amor do Pai
e acompanhais o gemido da criação,
Vós viveis também nos nossos corações
a fim de nos impelir para o bem.
Louvado sejais!
Senhor Deus, Uno e Trino, comunidade estupenda de amor infinito,
ensinai-nos a contemplar-Vos na beleza do universo,
onde tudo nos fala de Vós.
Despertai o nosso louvor e a nossa gratidão por cada ser que criastes.
Dai-nos a graça de nos sentirmos
intimamente unidos a tudo o que existe.
Deus de amor, mostrai-nos o nosso lugar neste mundo
como instrumentos do vosso carinho por todos os seres desta terra,
porque nem um deles sequer é esquecido por Vós.
Iluminai os donos do poder e do dinheiro
para que não caiam no pecado da indiferença,
amem o bem comum, promovam os fracos,
e cuidem deste mundo que habitamos.
Os pobres e a terra estão bradando:
Senhor, tomai-nos sob o vosso poder e a vossa luz,
para proteger cada vida, para preparar um futuro melhor,
para que venha o vosso Reino de justiça, paz, amor e beleza.
Louvado sejais!
Amen.
Papa Francisco
Tony Neves