No dia 21 de Novembro de 2014, o Papa Francisco, ainda dentro do ambiente celebrativo do quinquagésimo aniversário do Concilio Vaticano II, anunciou assim, a toda a Igreja, o Ano da Vida Consagrada: «Fazendo-me eco do sentir de muitos de vós e da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, decidi proclamar um Ano da Vida Consagrada. Terá início no dia 30 do corrente mês de Novembro, I Domingo de Advento, e terminará com a festa da Apresentação de Jesus no Templo a 2 de Fevereiro de 2016».
Palavra de Deus
Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria.
Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.»
Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, porque nada é impossível a Deus.» Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela.
Lc 1, 26-38
Objectivos do Ano da Vida Consagrada
O Papa Francisco quis deixar claro que a vocação à Vida Consagrada é de ontem, de hoje e de sempre e, por isso, o objectivo geral para este Ano é o mesmo que S. João Paulo II propusera à Igreja no início do terceiro milénio: «Vós não tendes apenas uma história gloriosa para recordar e narrar, mas uma grande história a construir! Olhai para o futuro, para o qual vos projecta o Espírito a fim de realizar convosco ainda coisas maiores» (V.C.110). O Papa quis desdobrar este objectivo geral em três específicos.
Olhar com gratidão o passado. A Vida Consagrada, como toda a vida cristã, «é complexa e é feita de pecado e de graça». Ao percorrer o caminho das gerações passadas, os/as Consagrados/as captam a centelha inspiradora dos seus Institutos, os ideais, os projetos, os valores que as moveram, a começar pelos fundadores/as e pelas primeiras comunidades. Conscientes das suas fragilidades e fraquezas os/as Consagrados/as querem «gritar» ao mundo, com força e com alegria, a santidade e a vitalidade que estão presentes na Vida Consagrada.
Viver com paixão o presente. Paixão sugere sentimentos de enamoramento, de verdadeira amizade e de profunda comunhão. De tudo isto se trata quando falamos de Vida Consagrada, e é isto que dá beleza à vida de tantos homens e mulheres que professam os conselhos evangélicos e seguem «mais de perto» a Cristo, neste estado de vida.
Abraçar com esperança o futuro. Os consagrados estão bem conscientes de que a crise que atravessa a sociedade e a própria Igreja toca plenamente a Vida Consagrada. Mas querem assumir esta crise não como a antecâmara da morte, mas como um Kairós, uma ocasião favorável para o crescimento em profundidade e esperança, motivada pela certeza que a Vida Consagrada nunca poderá desaparecer na Igreja, porque «foi querida pelo próprio Jesus como parte irremovível da sua Igreja» (Bento XVI, 5 de Novembro de 2010). Diante de tantos «profetas da desgraça» querem permanecer homens e mulheres de esperança.
Pistas de reflexão
- Como é que a vivência dos três elementos constitutivos da Vida Consagrada – relação com o Senhor, a vida fraterna em comunidade e missão – podem insuflar mais energia na vida da Igreja e das comunidades cristãs?
- Frente aos desafios do nosso tempo em que aspectos gostaríamos de ver os/as consagrados/as de hoje a propor de novo, com coragem e com fidelidade criativa, a experiência dos seus Fundadores e Fundadoras?
O Ano da Vida Consagrada tem algo a dizer aos leigos?
O Papa Francisco deixa claro que o Ano da Vida Consagrada não diz respeito apenas às pessoas consagradas, mas à Igreja inteira. «Assim dirijo-me a todo o povo cristão, para que tome cada vez maior consciência do dom que é a presença de tantas consagradas e consagrados, herdeiros de grandes Santos que fizeram a história do cristianismo. Que seria a Igreja sem São Bento e São Basílio, sem Santo Agostinho e São Bernardo, sem São Francisco e São Domingos, sem Santo Inácio de Loyola e Santa Teresa de Ávila, sem Santa Ângela Merícia e São Vicente de Paulo? E a lista tornar-se-ia quase infinita, até São João Bosco, a Beata Teresa de Calcutá. O Beato Paulo VI afirmava: «Sem este sinal concreto, a caridade que anima a Igreja inteira correria o risco de se resfriar, o paradoxo salvífico do Evangelho de se atenuar, o “sal” da fé de se diluir num mundo em fase de secularização». (Evangelica testificatio, 3).
O Ano da Vida Consagrada implica também os leigos que, com os consagrados, partilham ideais, espírito, missão. É o caso dos Missionários do Espírito Santo que, como Congregação religiosa-missionária, sabem que, à sua volta, têm uma «família carismática» – a Família Missionária Espiritana – que engloba vários movimentos de cristãos leigos que se sentem chamados, na fidelidade à sua condição laical, a participar da mesma realidade carismática.
Os leigos são encorajados a viver este Ano da Vida Consagrada como uma graça que pode torná-los mais conscientes do dom recebido. São igualmente convidados a celebrá-lo com toda a «Família Carismática» com que se sentem identificados, para crescerem e responderem juntos aos apelos do Espírito na sociedade atual.
Pistas de reflexão
- Do exemplo de vida de consagrados e consagradas que admiro e/ou que se cruzaram comigo, ao longo da vida, que dons recebi eu ou a minha comunidade?
- A feliz coincidência do Ano da Vida Consagrada com o Sínodo sobre a Família (4-25 de Outubro) fazem-nos compreender que Família e Vida Consagrada são vocações portadoras de riqueza e graça para todos, espaços de humanização na construção de relações vitais, lugares de evangelização. Podem-se ajudar uma à outra. Como vejo a concretização disto mesmo?
Compromisso
Trazer para a minha oração pessoal, em grupo/comunidade, os consagrados/as que conheço e que, porventura, possam ter marcado a minha vida. Neles agradecer o dom da Vida Consagrada à Igreja, e pedir ao Espirito Santo que neles infunda a bem-aventurança dos pobres, um coração consolador, a força da mansidão e o dom da misericórdia que os faça ministros da mansidão e da ternura. E Maria, primeira discípula e missionária, Virgem que se fez Igreja, interceda por todos.
P. Eduardo Miranda