1º Domingo do Advento
O ano litúrgico começa como acaba: recomendando a vigilância! É que a atitude de vigilância deve caracterizar toda a nossa vida. Como “porteiros” que somos, não pode ser outra a nossa postura. Não dá para aplicar o ‘piloto automático’ ao leme do barco da nossa vida – têm de ser mesmo as nossas mãos vigilantes a manter o barco na rota certa.
Esta atitude tem a ver com a conceção cristã do tempo, já que a nossa rota não é em circuito fechado, mas um caminho que, muitas vezes em zigue-zague ou em espiral, nos conduz para a meta, para o porto de chegada. De facto, com a entrada de Deus na história, pela incarnação de seu Filho, o tempo deixou de ser um eterno recomeço, por isso mesmo, monótono e repetitivo, para se tornar numa caminhada em direção a um ponto de chegada.
Passado, presente e futuro são dimensões comuns aos textos agora escutados. Mesmo no profeta Isaías, embora fosse ardentemente aguardada a anunciada vinda do Messias, reconhece-se que o Senhor já tinha descido muitas vezes, vindas essas ingloriamente desperdiçadas. Em S. Paulo, o nascimento de Cristo é apresentado como a fonte na qual se alimenta a esperança da sua manifestação gloriosa. Por sua vez, o evangelho aponta para uma vivência em vigilância diligente e aplicada.
Este ‘olhar para trás’ do Advento / Natal é para fortalecer a nossa certeza de que o Jesus, que já veio, há-de voltar, então envolto em glória. Mas, entretanto, Ele vem continuamente para, juntamente connosco, vigilantes e ativos, preparar o nosso coração para melhor O acolhermos na nossa vida e, com Ele, fazermos o nosso percurso para Deus.
Por isso, para que esta nova etapa seja melhor aproveitada, urge que cada um de nós tome consciência dos desvios e desajustes da nossa caminhada e cultive a indispensável maleabilidade, para que o nosso Oleiro melhor nos possa trabalhar e vá moldando a obra de arte que para cada um de nós no seu amor Ele arquitetou.
Paulo garante-nos que isto não é mera poesia, pois em Cristo já nos foi dado tudo, não nos “falta nenhum dom da graça”, para podermos realizar com êxito a nossa viagem. Comecemos, por isso, com entusiasmo esta nova etapa! Que às mãos de Deus não falta habilidade sabemo-lo de sobejo. Ponhamos então à sua disposição, neste novo ano, toda a nossa maleabilidade, para que Ele possa fazer de cada um de nós um vaso de eleição!
P. José de Castro Oliveira