Os modos de vida característicos de um povo traduzem a sua cultura. A cultura expressa-se na forma de vestir, na arte, no discurso, nos hábitos alimentares, nos processos de procura e administração de justiça e paz, bem como nos aspetos da vida diária de um povo. Um povo é conhecido e distinguido pelos seus fundamentos culturais.
A cultura é considerada por muitos como uma configuração complexa e exclusiva das instituições e dos modos de vida, abraçando o conhecimento, a crença, a arte, a moral, as leis, os costumes, as capacidades, os hábitos e expectativas comumente prevalentes numa sociedade e compartilhados pelos seus membros.
É difícil esgotar todos os pontos de vista existentes sobre a cultura. Mas, é claro, que a cultura é um conceito global e o modo de vida de um povo reflete o seu gene distintivo e o seu espírito. Abrange seu carácter fundamental e etos, a sua visão do mundo, a sua hierarquia de valores, as suas orientações de valor, as suas instituições e realizações nos vários domínios das atividades humanas – legais e literários, artísticos, estéticos e científicos, socioeconómicos e industriais, religiosos e espirituais.
Uma coisa só é intrinsecamente valiosa se tiver algum valor em si mesmo. O seu valor extrínseco implica que a coisa em questão não constitua necessariamente um valor em si, mas seja utilizada como meio para a realização de outros valores. Assim se compreende que algo que seja realizado para o “bem de” ou que venha a ser “bom para” possa partir de uma conceção primitiva, que virá a ser desenvolvida em consonância com o modo de vida de um povo.
Cada cultura, por muito destorcida que seja, contém sistemas de procura e manutenção da justiça e paz, os quais, sempre que se mostrem obsoletos ou incapazes de cumprir o fim deles esperado, prejudicarão irreparavelmente à cultura em questão.
Apesar dos conceitos de justiça e paz serem universais, a verdade é que o que é tido por justo pode variar de sociedade para sociedade. Por isso, uma importação acrítica dos elementos e valores culturais de outro povo prejudica os sistemas de justiça e paz na sociedade recetora. Mesmo em culturas semelhantes, existem sempre aspetos diferentes na aplicação dos mesmos valores. Nessa medida se compreende que a justiça seja contextual.
A língua é o motor da cultura. É por isso que tudo o que acontece com a linguagem de um povo acontece a sua identidade como povo. A linguagem é, portanto, o fio de tecelagem com que uma cultura é tecida na vida de um povo. Essa linguagem para essa cultura, outra linguagem para outra cultura. É através da linguagem que o homem pensa e reflete sobre a realidade. O fundo do sistema linguístico não é apenas um instrumento de reprodução para expressar ideias, mas é, em si, o construtor de ideias, que dá vida aos conceitos e sensibilidades de qualquer povo.
Um povo que por sua ou por vontade de outrem se desliga da sua língua perde algo de essencial na sua cosmovisão e jamais conseguirá ver tudo a partir da mesma ótica. Se bem que os intercursos culturais enriquecem mas quando uma cultura subtrair em vez de acompanhar uma outra cultura, o intercurso é prejudicável e os paradigmas da justiça e paz perdem-se.
Simon Ayogu