1º Domingo da Quaresma
Lucas é o evangelista que mais insiste na presença e ação do Espírito Santo nas tentações de Jesus. Elas são, com efeito, o grande momento em que Jesus, face às questões essenciais da vida humana (sobrevivência, idolatria, poder e ambição) e antes de dar início à missão que lhe foi confiada, faz a sua opção por Deus, seu Pai.
Também por nós, este tempo da Quaresma pode e deve ser encarado como esse ‘tempo favorável’ em que, conduzidos pelo Espírito Santo, podemos crescer na fidelidade ao Senhor e, assim, tornar mais fecundas as nossas vidas. Daí, o percurso que a Palavra do Senhor nos aponta.
Este tempo da Quaresma, para ser tempo de conversão, requer, antes de mais, que nos reconciliemos com a nossa história, pessoal e coletiva: o que somos hoje resulta dessa história, na qual emerge a presença fiel e atuante de Deus, perante quem somos convidados a colocar-nos em atitude de adoração. É por ela que expressamos o nosso reconhecimento e a decisão de continuarmos fiéis ao rumo dessa história, encetando desde já a correção dos desvios que, ao longo do tempo e quase inevitavelmente, se foram introduzindo.
Alertando para o risco de a nossa vivência cristã se tornar quase exclusivamente intimista, S. Paulo lembra-nos que a palavra da fé tem de estar no coração e na boca, não só para ser acreditada, mas também proclamada e testemunhada, pois a misericórdia de Deus é para judeus e gregos, isto é, para todos.
Os nossos Pastores (Papa e Bispo/s) apontam-nos caminhos concretos a percorrer durante esta Quaresma:
– “O apelo à conversão constitui a mensagem mais forte do tempo quaresmal. É necessária a conversão de cada cristão para que, descobrindo toda a riqueza do seu batismo, tome consciência que os frutos produzidos são, muitas vezes, escassos. Não nos podemos contentar com vidas cristãs meramente rotineiras, medíocres e estéreis. Este é o tempo de cuidar da “planta frágil” que é cada pessoa e criar as condições para dar mais fruto” (D. António Augusto Oliveira).
– “Muitas vezes, na nossa vida, prevalecem a ganância e a soberba, o anseio de possuir, acumular e consumir, como se vê no homem insensato da parábola evangélica, que considerava assegurada e feliz a sua vida pela grande colheita acumulada nos seus celeiros. A Quaresma convida-nos à conversão, a mudar mentalidade, de tal modo que a vida encontre a sua verdade e beleza menos no possuir do que no doar, menos no acumular do que no semear o bem e partilhá-lo” (Papa Francisco).
Por isso e pegando no refrão do Salmo responsorial, não é difícil formular uma prece para esta Quaresma: Estai comigo, Senhor, ao longo desta Quaresma e ajudai-me a fazer as escolhas acertadas para só a Vós adorar e prestar culto e não me cansar de fazer o bem!