25ª Domingo do Tempo Comum
No evangelho deste domingo somos confrontados com uma parábola a que não é fácil dar a volta. Se, por um lado, estamos de acordo que o vinhateiro não cometeu qualquer injustiça, pois pagou o salário combinado, também é verdade que sentimos um certo sabor a injustiça, por ter dado a todos a mesma paga, já que faz parte da justiça tratar diferentemente o que é diferente. Convenhamos que não é a mesma coisa trabalhar apenas uma(s) hora(s) ou mourejar todo o santo dia!
Por isso, ela lança-nos o desafio a não ficarmos do lado dos que trabalharam o dia inteiro, mas a passarmos para o outro lado. E o outro lado são, antes de mais, aqueles homens que, tendo trabalhado apenas uma(s) hora(s), receberam a paga por inteiro: não é difícil imaginar a sua alegria e contentamento! E a verdade é que a culpa não foi deles – “ninguém nos contratou” – apenas não estiveram no lugar certo à hora certa. Mas o sustento da sua família esse estava dependente do seu vencimento. E, se esse fosse o nosso lado, não gostaríamos que nos acontecesse a mesma coisa? Então, porquê tanta inveja e revolta?
Mas o outro lado é, sobretudo, o lado de Deus! Com esta história, levada até ao extremo da sua verosimilhança, Jesus quis dar-nos a conhecer o coração do nosso Deus, que é um coração grande, magnânimo, generoso – é mesmo um coração de Pai: “tanto quanto o céu está acima da terra, assim acima dos vossos estão os meus pensamentos”!
Escreveu o Papa Francisco para o Ano Jubilar da Misericórdia: “Deus, com a misericórdia e o perdão, passa além da justiça. Isto não significa desvalorizar a justiça ou torná-la supérflua. Mas, se Deus se detivesse na justiça, deixaria de ser Deus. A justiça, só por si, não é suficiente e a experiência mostra que, limitando-se a apelar para ela, corre-se o risco de a destruir. Deus não rejeita a justiça: Ele engloba-a e supera-a num evento superior onde se experimenta o amor, que está na base da verdadeira justiça” (Misericordiae vultus, nº 21).
E é à luz desse coração grande que melhor vemos a pequenez e a mesquinhez do nosso: não somos capazes de nos alegrar com aqueles que estão alegres, nem de partilhar a tristeza dos outros – é o nosso coração que precisa de ser mudado e não o coração de Deus!
Daí o apelo do mesmo Papa Francisco, ao encerrar esse Ano Santo da Misericórdia: “Somos chamados a fazer crescer uma cultura de misericórdia, com base na redescoberta do encontro com os outros: uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença, nem vire a cara quando vê o sofrimento dos irmãos.
Este é o tempo da misericórdia. Cada dia da nossa caminhada é marcado pela presença de Deus, que guia os nossos passos com a força da graça que o Espírito infunde no coração para o plasmar e torná-lo capaz de amar. É o tempo da misericórdia para todos e cada um, para que ninguém possa pensar que é alheio à proximidade de Deus e à força da sua ternura. É o tempo da misericórdia para que quantos se sentem fracos e indefesos, afastados e sozinhos, possam individuar a presença de irmãos e irmãs que os sustentam nas suas necessidades. É o tempo da misericórdia para que os pobres sintam pousado sobre si o olhar, respeitoso mas atento, daqueles que, vencida a indiferença, descobrem o essencial da vida” (Misericordia et Misera, 20-21).
É assim que poderemos trocar o sabor a injustiça pelo sabor e cheiro a misericórdia!