Roma é uma cidade escaldante, não pela temperatura ambiente, mas pelos calores provocados pelo anúncio do Conclave para 7 de maio. Ainda estão vivas e acesas as gratas e profundas memórias do funeral do Papa Francisco que deixou à Igreja e ao mundo uma herança de humanidade incontestável, porque reconhecida dentro e fora dos muros eclesiais.
O Jubileu, sob o signo da Esperança, viu o seu programa muito abalado e, em muitos eventos, posto em causa. Mas o Jubileu dos Adolescentes encheu Roma com largas dezenas de milhares de pessoas, vindas do mundo inteiro. A celebração principal, a Missa, foi presidida no domingo 27 pelo Cardeal Parolin, com a Praça de S. Pedro e as imediações a abarrotar da alegria e colorido trazidos por estas novas gerações. Marcou-me particularmente uma faixa levada por escuteiros que dizia: ‘Deixou o mundo um pouco melhor do que o encontrou. Boa viagem, Papa Francisco!’.
A semana foi intensa em programação jubilar. Primeiro aconteceu o das Pessoas portadoras de Deficiência (28-29 de abril) e, nos últimos dias, o Jubileu dos Trabalhadores (1-4 de maio) e do mundo empresarial (4-5 de maio). Todos previam celebrações e encontros com o Papa e, neste período de Novena em sufrágio do Papa Francisco, quase tudo foi cancelado. Mas muitas pessoas e associações estavam inscritas para estes eventos e, tendo viagens e estadias pagas, vieram até Roma e celebraram o Jubileu entrando nas Portas Santas.
Quero voltar um pouco atrás e fazer eco do muito que se disse sobre a vida e missão do Papa Francisco. Começo pelo ‘Rogito’, uma palavra que se pode traduzir por ‘Obras’. Há uma tradição antiga de colocar no caixão do Papa um tubo de aço com um texto que conta o essencial da missão papal. Destaco deste ‘Rogito’ algumas linhas: ‘A memória de Francisco permanece no coração da Igreja e da humanidade inteira(…). Em Buenos Aires foi um pastor simples e muito querido em sua Arquidiocese, que percorria amplamente, inclusive usando metro e autocarro. Morava num apartamento e preparava ele mesmo o seu jantar’(…). ‘Escolheu o nome Francisco, porque, seguindo o exemplo do santo de Assis, queria ter um olhar prioritário para com os mais pobres do mundo(…). ‘Sempre atento aos últimos e aos excluídos da sociedade, Francisco, assim que foi eleito, escolheu viver na Casa Santa Marta, pois não conseguia ficar longe do contato com as pessoas e, desde a primeira Quinta-feira Santa, quis celebrar a Missa da Ceia do Senhor fora do Vaticano, indo a prisões, centros de acolhimento de deficientes ou dependentes químicos. Recomendava aos sacerdotes estarem sempre disponíveis para administrar o sacramento da misericórdia, a terem coragem de sair das sacristias para procurar a ovelha perdida e a manterem abertas as portas da igreja para acolher quem buscasse o Rosto de Deus Pai(…) Os últimos anos do pontificado foram marcados por inúmeros apelos pela paz, contra a Terceira Guerra Mundial em pedaços em curso em diversos países, especialmente na Ucrânia, bem como na Palestina, Israel, Líbano e Mianmar’(…). Francisco deixou a todos um testemunho admirável de humanidade, de vida santa e de paternidade universal’.
A Missa Exequial contou com a presença de inúmeros governantes vindos do mundo inteiro e uma multidão imensa de pessoas que quiseram participar neste momento excecional de oração e homenagem ao Papa Francisco. Mais de 4 mil jornalistas pediram a acreditação na Sala de Imprensa do Vaticano. O Cardeal Batista Re, decano, disse na homilia: ‘Seguiu as pegadas do seu Senhor, o bom Pastor, que amou as suas ovelhas até dar a própria vida por elas’(…). ‘O fio condutor da sua missão foi também a convicção de que a Igreja é uma casa para todos; uma casa com as portas sempre abertas. Várias vezes utilizou a imagem da Igreja como um “hospital de campanha” depois de uma batalha em que houve muitos feridos; uma Igreja desejosa de cuidar com determinação dos problemas das pessoas e das grandes angústias que dilaceram o mundo contemporâneo; uma Igreja capaz de se inclinar sobre cada homem, independentemente da sua fé ou condição, curando as suas feridas. São inúmeros os seus gestos e exortações a favor dos refugiados e deslocados. Constante foi também a sua insistência em agir a favor dos pobres’(…). ‘Dirigindo-se a homens e mulheres de todo o mundo, na sua Carta Encíclica Laudato si’, chamou a atenção para os deveres e a corresponsabilidade em relação à casa comum. ‘Ninguém se salva sozinho’.
O Cardeal Batista Re terminou com duas citações repetidas vezes sem fim pelo Papa Francisco: ‘A guerra deixa sempre o mundo pior do que estava: é sempre uma derrota dolorosa e trágica para todos’; ‘É preciso construir pontes e não muros’.
Rezemos para que os Cardeais reunidos em Conclave, a partir de 7 de maio, elejam o Papa que Deus quer.