Sempre que visito as memórias da infância é impossível não os encontrar. Distintos na personalidade, simples no seu modo de interagir com o mundo, grandes na disponibilidade e no amor que tinham para distribuir… Os avós.
Pelas circunstâncias da vida só conheci dois. Do avô Joaquim guardo a serenidade e os silêncios partilhados, nas longas tardes em que, já com poucas forças, ficava sentadinho a velar o meu estudo. Da avó Arminda recordo a força e a tenacidade para lidar com as surpresas da vida, a forma alegre e aberta como se entregava à conversa com toda a gente e sobretudo o brilho dos seus olhos e a largueza dos seus braços, onde sempre procurou acolher e servir a todos (e foram muitos) que ficavam ao seu cuidado… Vidas simples que continuam vivas!
Nas palavras que dedico ao Sr. Joaquim e à D. Arminda, gostaria de abraçar todos os avós e, igualmente, tantos idosos e idosas, cujo II dia mundial celebramos no dia 24 de julho.
Tal como nos interpela a mensagem que o Papa Francisco escreveu para este dia, é urgente que voltemos o nosso olhar para estes homens e mulheres carregados pelas marcas da vida e da experiência. A exemplo do que refere: “Muitas pessoas têm medo da velhice. Consideram-na uma espécie de doença, com a qual é melhor evitar qualquer tipo de contacto: os idosos não nos dizem respeito – pensam elas – e é conveniente que estejam o mais longe possível, talvez juntos uns com os outros, em estruturas que cuidem deles e nos livrem da obrigação de nos ocuparmos das suas penas. É a «cultura do descarte»: aquela mentalidade que, enquanto nos faz sentir diversos dos mais frágeis e alheios à sua fragilidade, permite-nos imaginar caminhos separados entre «nós» e «eles». (…) Na realidade, uma vida longa é uma bênção, e os idosos não são proscritos de quem se deve estar à larga, mas sinais vivos da benevolência de Deus que efunde a vida em abundância. (…) As sociedades mais desenvolvidas gastam muito para esta idade da vida, mas não ajudam a interpretá-la: proporcionam planos de assistência, mas não projetos de existência. (…) «A nossa sensibilidade especial de idosos, da idade anciã às atenções, pensamentos e afetos que nos tornam humanos deve voltar a ser uma vocação para muitos. E será uma escolha de amor dos idosos para com as novas gerações».”
Ainda somos jovens mas, certamente, não o seremos para a eternidade. É urgente que ajudemos a valorizar e capitalizar a sabedoria que está contida nestes homens e mulheres que nos precederam, que mudemos a nossa abordagem impaciente e técnica. Num mundo dominado por sentimentos de solidão e guerra, que o tempo e o amor que nos dedicam(ram) seja inspiração para que, juntos, sejamos capazes de ser artífices da revolução da ternura!