“Movidos pela pérola preciosa, chamados a partir”
Ponte’2018 em Itoculo, Moçambique
Em Agosto deste ano realizou-se o projecto “Ponte” em Itoculo, Moçambique. Desta vez, o grupo era bem mais pequeno do que o habitual. Apenas 5 jovens e um padre. Meia dúzia de pessoas. Mas desde logo se percebeu que isto não representaria um “handicap”, mas um factor de maior proximidade e coesão entre todos. No fim, a satisfação partilhada por todos tinha a ver com a experiência de comunhão vivida com o povo e com os missionários que ali vivem, mas também com os laços de profunda amizade nascidos dentro do grupo Ponte.
Moçambique é conhecido como sendo “a pérola do Índico”, por se situar na costa oriental de África, onde este oceano dá às praias uma beleza inigualável. Este pormenor, aliado à parábola da pérola preciosa e única, a que Jesus se refere em Mateus 13, 45-46, inspirou o grupo desde os encontros de preparação, a deixar tudo, a sacrificar-se, para encontrar o outro, e o próprio Deus, e ganhar muito mais: “Movidos pela pérola preciosa, chamados a partir”.
Peripécias dos primeiros dias
Ao chegar a Maputo, cidade capital, deu-se um pequeno percalço que “ajudou” a aliviar a carga e, de algum modo, a reforçar a convicção de que o essencial não era o que ia nas bagagens… Num breve momento de distração, uma mochila foi roubada. Ainda foi possível consultar as câmaras de video-vigilância para ver como tudo se tinha passado, mas nada mais se conseguiu. Todos ficaram mais levezinhos, até o pessoal missionário que esperava em Itoculo. É que, para além de um breviário, algumas peças de roupa, material de higiene pessoal, e alguns chocolates enviados com tanto carinho pela Helena Ferreira e Ernestina Falcão, ainda se perdeu o telemóvel novo destinado ao P. Edmilson!
Logo nos dois primeiros dias da chegada a Itoculo, os jovens sem fronteiras puderam conhecer as forças vivas da missão/paróquia, já que, por coincidência, se encontava nesse dia reunido o Conselho Paroquial. Ali estavam os principais homens e mulheres responsáveis pelos diferentes sectores da pastoral das cerca de 80 comunidades que formam esta Igreja: animadores gerais, responsável das mamãs, dos jovens, dos casais, da catequese, etc. Todos sentados em círculo puderam ouvir estes recém-chegados de Portugal a tentar aplicar as poucas palavras de macua e a melodia própria do português de Moçambique, muito pausado e ondulante, que tinham aprendido antes da partida: “Sa-la-ma, o meu no-me é Inês”…
Trabalhando com empenho e criatividade
Logo no segundo dia de presença em Itoculo, arrancaram as atividades a sério. Uma mão cheia delas realizadas ali mesmo no centro da missão, outras desenvolvidas mais no interior, em mini-centros onde regularmente se reúnem os responsáveis das comunidades mais remotas. No centro da missão as atividades promovidas pelo grupo ponte, em parceria com os missionários, contemplaram sobretudo as camadas mais jovens da população. Foi feito diariamente um trabalho muito intenso de reforço escolar, abrangendo os alunos dos lares da missão, com cerca de 80 rapazes e raparigas, e ainda os estudantes externos. Os alunos, habituados à pedagogia mais rígida e formal da sua escola, ficaram agradavelmente surpreendidos e aprenderam bem graças a dinâmicas mais criativas trazidas pelos JSF… mesmo quando essa dinâmica se apoiava em manuais antigos, como o do “ratinho”, para a gramática e a matemática.
Promoveram-se ainda cursos de viola e órgão. Com apenas meia dúzia de violas e um mísero órgão, os alunos desesperavam enquanto esperavam pela sua vez de tocar. O mesmo aconteceu com o curso de informática. É que a missão possui apenas 10 computadores a funcionar (5 no lar das irmãs e 5 na biblioteca da missão) e alguns deles já em estado muito obsoleto. Num mês apenas, os jovem aprenderam mesmo os fundamentos, como usar um rato e um teclado, como dar os primeiros acordes. Mas, a avaliar pela rapidez e entusiasmo com que aprendiam, estão aqui os Beethovens e os Steve Jobs do futuro. A par das actividades mais direcionadas para os jovens, a equipa do projecto Ponte pôde ainda interagir com crianças nas atividades de ATL realizadas cada tarde, na escolinha dirigida pelas espiritanas, assim como com as crianças desnutridas que semanalmente eram trazidas ao centro nutricional.
Os jovens “pontistas” estiveram envolvidos em atividades de âmbito naturalmente mais pastoral, como foram os cursos de vários dias para animadores de jovens, para responsáveis da justiça e paz e para coordenadores da Infância Missionária. Três dias por semana, nas comunidades do interior, realizavam-se reuniões de formação com outros responsáveis de ministérios laicais, catequistas, animadoras das mamãs, professores das escolas comunitárias, animadores dos casais, etc. Aos domingos, enquanto o Pe Edmislon e o Pe Damas atendiam as pessoas em confissão, os jovens reflectiam sobre as bem-aventuranças, recorrendo ao teatro, à música e à dança.
Experiência gratificante
Esta foi uma experiência que muito marcou os 5 jovens e o “menos jovem” que partiram em ponte. Pelos testemunhos dos pontistas, aqui publicados, percebe-se que, apesar do esforço na preparação e na execução das muitas atividades oferecidas aos jovens e aos cristãos de Itoculo, os principais beneficiados foram aqueles que lá foram. A alegria e a hospitalidade autêntica do povo, a dedicação das irmãs e irmãos (P. Edy e Gil) e o carinho tão atento da Cristina Fontes foram uma enorme bênção nesta aventura missionária. Muito apreciada foi a presença e a solidariedade de pessoas da coordenação JSF e SOLSEF, na hora da partida, durante o mês, e no momento da chegada. Um grande OXUKURU para todos.
P. Damasceno Reis
Vale a pena… vale sempre a pena partir. O espírito jovem das comunidades fez saltar, em mim, um olhar diferente da realidade: nunca é tarde para perceber que Deus nos ama e nos convida a amar sem medida. Senti-me convidado a ‘ser uma ilha de misericórdia num mar de indiferença’.
Sempre que estive com os jovens a interpretar, com as nossas vidas, a parábola das Bem-aventuranças, vi que a nossa vida tem muito mais valor quando doada por amor. A Pérola que chamou-me a partir brilhou no rosto das pessoas que nos acolhiam, gerando proximidade fraterna que fez reinar o Amor.
Bernardino Semedo
Movidos pela pérola preciosa” que é Jesus, lá partimos nós rumo a um lugar tão especial, Itoculo, para uma missão de amor sem medida.
Vivemos um mês repleto de fé, partilha, união e emoções à flor da pele, junto daquela terra vermelha tão especial e de um povo tão genuíno e de sorriso fácil.
Por Ele partimos e regressamos, com a saudade no coração, um sentimento de gratidão e o compromisso eterno de “estar perto dos que estão longe, sem estar longe dos que estão perto”.
A nossa Ponte começa agora, por isso, com todo o amor, digo: “Itoculo, koxukuru vanjeni. Mpáka nihíko nikína.
Raquel Silva
Os sorrisos de esperança e de alento de cada pessoa foram aquilo que tornaram este mês repleto de emoções. Viver na alegria do povo macua é sentir e viver Deus de perto.
Fui com tudo para dar, mas, no final, fui eu quem mais recebi.
Todos os dias sentia o carinho e a gratidão da comunidade, o olhar ternurento dos mais crescidos e os abraços e sorrisos desmesurados dos mais novos.
Nestas pessoas vi os atos generosos de Deus, o amor na sua forma mais bela.
De Itoculo trago memórias que são incomensuráveis, mas eternas para a alma.
Inês Gonçalves
Livre sorri, ganhei asas e parti…. Parti ao encontro de um povo simples, humilde, cheio de esperança e com uma alegria contagiante. Pessoas ricas de Deus que me enchiam de felicidade, a cada dia que passava e me punham o coração a transbordar de amor. Senti em cada encontro a presença de Deus, pelos sorrisos, olhares, abraços e partilhas. Descobri que as pessoas com quem nos cruzamos fizeram com que cada momento fosse uma bênção de Deus. Vim de Itoculo com o coração cheio de TUDO, fé, alegria, felicidade, amor e saudade…
Ângela Loureiro
Ser tão nada e acolher tudo como Dom”- A missão nos deixa envolver por um Amor Maior, este Amor que não nos deixa apenas dizer sim mas que se faz ainda mais forte ao viver a entrega, a partilhar e a presença no irmão.
A criança, o jovem, o “papa” e a “mamã”, fica gravado um rosto simples e cheio de Deus, um rosto de alegria e Fé.
A pérola que nos moveu a ir além-fronteiras, não se deixou ficar apenas com a nossa presença, mas que nos levou à descoberta de nós mesmo, descobrir o nosso coração, redescobrir o Deus que se fez presente em todos os momentos.
Entre Portugal e Itoculo aquilo que nos une é este Amor Deus!
Martina Teixeira
Cinco jovens e um padre missionário da Congregação do Espírito Santo: conheça os voluntários do projeto Ponte’2018.
Ângela Loureiro é uma jovem de 25 anos, formada em Engenheira Eletrónica e pertencente aos Jovens Sem Fronteiras (JSF) de Areias de Vilar, da região Minho. Parte para este projeto com “vontade de dizer ‘sim’” e de ir encontro a este “povo que [a] contagiará com alegria”.
Bernardino Semedo é um jovem professo dos Missionários do Espírito Santo, natural de Cabo Verde e estudante de Teologia no Porto. Em Itoculo, realizou o seu estágio missionário e por isso, esta terra é “muito querida tanto pelo acolhimento aí experimentado, como também por se ter revelado uma ocasião de crescimento vocacional e pessoal”.
Damasceno dos Reis é padre missionário do Espírito Santo e teve, também, a oportunidade de viver na Missão de Itoculo, onde trabalhou durante 17 anos. A sua participação no projeto Ponte será uma ocasião de ouro para se reencontrar com a comunidade que contribuiu para ser o missionário que é.
Inês Gonçalves tem 19 anos e estuda Direito em Lisboa. Membro dos JSF desde 2014, deixa “Portugal por um mês, porque a missão não tem e não pode ter fronteiras”. Afirma que não parte por ela, parte “por e com Deus” (…) “na busca de um amor infinito e na esperança de encontrar um povo que acolhe e que dá muito mais do que aquilo que recebe”.
Martina Teixeira é uma jovem estudante de 23 anos, natural de Alvite e pertencente aos JSF. Este ano, tomou a decisão de ir em missão com a certeza que de “há Alguém que nos faz sentir mais fortes do que aquilo que naturalmente somos” e que, por isso “é possível partir sem perguntarmos porquê!”.
Raquel Silva é natural de Torres Vedras e estudante de Sociologia em Lisboa. Embarca nesta experiência à conquista da vontade de “estar perto dos que estão longe, sem estar longe dos que estão perto” e de “com eles partilhar o amor e a alegria de ser missionário”.
Hino
“Movidos pela pérola preciosa, chamados a partir” (Mt 13, 45-46) é o lema que animou o grupo de 6 voluntários que partiu em Missão para Itoculo, em Moçambique, no mês de Agosto de 2018.
Moçambique é conhecido como o país “pérola do Índico”. O grupo aproveitou esta ideia para a relacionar com a parábola em que Jesus nos chama a deixar tudo pelo seu Reino: “a pérola mais preciosa, pela qual todas as outras devem ser vendidas”, em Mateus 13, 45-46.