19º Domingo do Tempo Comum
A Palavra do Senhor deste Domingo aproveita a força simbólica da noite para nos transmitir a sua mensagem.
É verdade que a noite hoje perdeu muito do seu impacto, devido não só à profusão de luzes que iluminam cidades, vilas e aldeias, mas também ao ritmo de vida, que se mantém vivo quer nas fábricas (turno da noite), quer no movimento das estradas (sobretudo dos transportes de mercadorias). Apesar disso, a dicotomia luz / trevas, noite / dia ainda mantém uma força simbólica muito forte. De facto, a noite continua a ser o reino das trevas, o ambiente propício para a elaboração de planificações maquiavélicas e para a execução de assaltos, atentados, roubos e crimes. Daí que, ainda hoje, a noite continue a ser o símbolo do reino do mal.
Precisamente por isso, as grandes intervenções de Deus são colocadas no coração da noite: a passagem libertadora no Egipto, o nascimento de Jesus, a ressurreição de Cristo. Todas elas revelam a determinação de Deus em intervir em favor do Homem, para o libertar do reino das trevas, do reino do mal e transferi-lo para o reino da luz, da verdade e da justiça.
Maria, “a Senhora mais brilhante que o sol”, aparece, neste contexto, como a mulher totalmente liberta do poder do mal, com todo o seu ser exposto, pela fé, à ação benéfica do sol de Deus. Por isso, os textos deste Domingo encaminham-nos para a solenidade da Assunção de Nossa senhora.
A Fé é-nos apresentada no texto da Carta aos Hebreus, como a luz que pode iluminar os caminhos da nossa vida, a força que pode fazer de nós “estrangeiros e peregrinos”, para nos libertar do poder do mal e nos fazer esperar, com Abraão, Isaac e Jacob, “a certeza das realidades que não se veem”. O emérito papa Bento XVI lembrou-nos que este rio da fé continua a correr hoje em todos os tempos e cantos da terra, e que é a nós que, na esteira de Maria, Rainha dos Apóstolos e dos Mártires, cabe dar-lhe continuidade e fazê-lo engrossar: “Pela fé, no decurso dos séculos, homens e mulheres de todas as idades, cujos nomes estão escritos no Livro da vida, confessaram a beleza de seguir o Senhor Jesus nos lugares onde eram chamados a dar testemunho do seu ser cristão: na família, na profissão, na vida pública, no exercício dos carismas e ministérios a que foram chamados”.
Por isso, também para nós, a atitude típica do cristão tem de ser a vigilância, para não se deixar enredar pelos caminhos da ‘noite’. Conscientes do fascínio que os bens deste mundo sobre nós exercem e conhecedores da forte inclinação do nosso coração para a eles se apegar, só com uma atitude de vigilância firme e constante nos poderemos manter como “filhos da luz” e trilhar os caminhos da Fé percorridos pela “Senhora mais brilhante que o sol”!