A Páscoa é a maior festa dos cristãos. Sem qualquer margem para contestação, porque celebra a Vida que vence a morte. Maior é impossível!
Tenho tido a alegria e a felicidade de celebrar a Páscoa em contextos culturais muito diversos, o que é uma grande riqueza. Recordo as Páscoas na minha aldeia natal, desde criança até ser ordenado diácono. Durante os meus tempos de formação para padre, tive a alegria de fazer diversas visitas pascais em paróquias com características muito diferentes, sempre no norte de Portugal. Era uma alegria acompanhar uma equipa de Compasso que, de casa em casa, anunciava a Ressurreição de Cristo às famílias que, reunidas em ambiente de festa, abriam as suas portas a este anúncio pascal.
Quando era diácono e estudava em Paris, vivi a Semana Santa e a Páscoa no Mosteiro Trapista de Notre Dame des Neiges, lá onde São Carlos de Foucauld, um santo que muito me inspira, foi Ordenado diácono e padre. Estava frio, mas as celebrações foram quentes e marcantes, pois nunca as esqueci, e já lá vão trinte e seis longos anos!
Após a Ordenação, parti para Angola e celebrei a primeira páscoa africana, num contexto de guerra civil, na cidade do Kuito-Bié. Lembro-me que todas as celebrações da Semana Santa e Páscoa foram realizadas em pleno dia, com largas centenas de pessoas a cantar e a dançar, com o tempo a correr depressa.
Depois vivi quatro marcantes Páscoas no Huambo, sempre em contexto de guerra, sendo as de 1993 e 1994 celebradas debaixo de brutais bombardeamentos aéreos. Foram celebrações longas e intensas, com um povo a rezar pela paz que tanto ansiavam, mas que tardava em chegar.
De regresso a Portugal, vivi vinte e quatro Páscoas, um pouco por todo o país. Depois, em 2018, com a minha ida para Roma, optei por viver esta festa maior em linhas da frente da Missão. A Páscoa de 2024, a última fora de portas, teve lugar nas periferias de Libreville, a capital do Gabão, numa experiência fantástica de festa longa e profunda, com milhares de pessoas a participar intensamente nesta vitória de Cristo sobre a morte.
Acabo de viver a Semana Santa e a Páscoa em Roma, em ano de Jubileu. Quinta Feira Santa foi dia de celebrar o sacerdócio na Missa Crismal, na Basílica de S. Pedro. Congregaram-se 1800 padres, com rostos a mostrar a enorme riqueza da diversidade que é a Igreja, com sacerdotes vindos de todas as geografias, famílias religiosas e idades. O Papa Francisco, na homilia que escreveu, fez aos padres o pedido de ‘uma entrega radical e gratuita’. E, à tarde, deslocou-se à Prisão Regina Coeli, onde encontrou reclusos. À pergunta de um jornalista: ‘como está a viver a Páscoa?’, a resposta foi fantástica: ‘Vivo-a como posso!’.
Na Missa Vespertina da Ceia do Senhor, atualizamos a Instituição da Eucaristia.
A Sexta Feira Santa foi vivida com interioridade, tendo como centro do dia a Celebração da Paixão e Morte de Cristo. Marcaram-me a proclamação solene da narrativa evangélica da Paixão, a longa Oração Universal e, sobretudo, a Adoração da Cruz que me mergulhou num profundo silêncio que durou até ao início da noite do Sábado Santo, quando começou a Vigília Pascal. Primeiro acendeu-se o Lume novo e fez-se a liturgia da Luz; escutamos a longa e dolorosa história do Povo de Deus; para a homilia, o Papa escreveu que é urgente parar ‘os ventos de morte que ainda sopram sobre nós’. Houve a bênção da água e renovação das promessas do Batismo; tudo se concluiu com a Liturgia Eucarística, com os Aleluias finais.
A manhã de Páscoa nasceu cheia de sol e celebrei a Missa da Ressurreição na Igreja de Santo António dos Portugueses. Depois fui até à Praça de S. Pedro para ver e ouvir o Papa que, apesar da debilidade física evidente, veio à varanda da Basílica de S. Pedro para saudar a multidão que ali se juntou e dar a Bênção ‘Urbi et Orbe’ (à Cidade e ao Mundo).
Nesta sua mensagem pascal, deixou-nos desafios enormes: ‘chega até nós um anúncio sem precedentes: o amor venceu o ódio. A luz venceu as trevas. A verdade venceu a mentira. O perdão venceu a vingança. Isso não significa que o mal não desapareceu da história, mas já não lhe pertence o domínio’.
Desejo a todos um santo tempo de Páscoa.