15º Domingo do Tempo Comum
A versão longa do texto evangélico deste domingo, já contém em si a explicação da parábola do semeador, feita por Jesus a pedido dos seus discípulos. Por isso, não há que procurar outra, nem melhor explicação.
O Senhor garante-nos a qualidade da sua semente, pois a palavra de Deus “é viva e eficaz, mais penetrante que uma espada de dois gumes” e “não volta sem ter produzido o seu efeito, sem ter realizado a sua missão”.
Só que não basta a qualidade da semente para estar garantida uma sementeira fecunda: é preciso que ela seja lançada em terreno devidamente preparado!
E é aqui que nós entramos nesta parábola, pois o nosso contributo é tão indispensável quanto a qualidade da semente.
Antes de mais, convém perguntarmo-nos que importância – traduzida em tempo e espaço – damos no nosso dia a dia à Palavra do Senhor, reconhecendo que a nossa tradição está muito mais assente em orações formuladas do que na escuta atenta e refletida – a chamada ‘escuta orante’ ou ‘lectio divina’ – da Palavra de Deus. E a sementeira é condição ‘sine qua non’ para que possa haver colheita! Felizmente, desde o Concílio Vaticano II a Palavra de Deus vem recuperando, embora muito lentamente, a centralidade e importância que ela tem na vida cristã.
Com efeito, “nos livros sagrados, o Pai que está nos céus vem amorosamente ao encontro de seus filhos e conversa com eles; e é tanta a força e a virtude que radica na Palavra de Deus, que é, na verdade, apoio e vigor da Igreja, fortaleza da fé para os filhos da Igreja, alimento da alma, fonte pura e perene da vida espiritual” (Dei Verbum, 21).
Por outro lado, precisamos de reconhecer também que no coração de cada um/a de nós se encontram as diversas qualidades de terreno, mencionadas por Jesus. Se é verdade que temos parcelas boas e férteis de terreno, outras há – a nível dos sentimentos, da afetividade, dos critérios – onde muito há ainda por fazer, para que a palavra de Deus aí possa germinar e produzir abundante fruto. Se não podemos eliminar essas zonas, procuremos, ao menos, confiná-las no menor espaço possível!
Como seria bom que as nossas famílias cristãs encontrassem espaço, de forma regular, para a escuta e meditação da Palavra de Deus! Então, poderíamos exclamar como Jeremias: “Quando apareciam as vossas palavras, eu tomava-as como alimento: a vossa palavra era o encanto e a alegria do meu coração” (Jer.15,16). O período de confinamento a que estivemos sujeitos por causa da presente pandemia foi uma oportunidade providencial para isso, mas estamos sempre a tempo de começar!
É verdade que o tempo nos escasseia, mas mais verdade ainda é que ainda não temos a Palavra de Deus no devido apreço! E, entretanto, no terreno do nosso coração outras sementes vão caindo, das quais só brotarão “mato e espinhos” (Is. 5,6), quando, na verdade, precisamos de palavra que fortaleça a nossa esperança para encararmos os sofrimentos, contrariedades e tribulações da vida como “dores de parto”, donde nascerá “a liberdade e a glória dos filhos de Deus”, como nos disse S. Paulo.