2º Domingo do Advento
A Palavra do Senhor deste segundo domingo do Advento coloca diante de nós a figura de João Batista, mais focada na sua personalidade do que na sua missão de precursor e de batista, o que leva a que nos coloquemos a pergunta: até onde vai a nossa ousadia?
Com efeito, o Precursor não alinhou pelo ‘social e religiosamente correto’ do seu tempo, pois
– não se contentou com uma prática farisaica das prescrições de Moisés, mas foi viver para o deserto num estilo de vida austero;
– não se refugiou – como pretendia – numa vida escondida e silenciosa, mas aceitou a missão de ir proclamar um batismo de penitência;
– não se arvorou em profeta ou messias, mas apresentou-se como simples “voz que clama no deserto”;
– não se vergou subserviente diante de ninguém, nem pactuou cobardemente com o erro, mas denunciou corajosamente a situação irregular em que Herodes vivia;
– vestia-se com pelos de camelo, mas não era camaleão!
Também sabemos o preço que teve de pagar por semelhante ousadia: cadeia e decapitação, mas recebeu de Cristo o maior elogio: entre os filhos de mulher ninguém se lhe compara!
Hoje, e em situações muito menos hostis, não faltam cristãos e católicos:
– que escondem de tudo e de todos a sua fé,
– que se remetem a um silêncio envergonhado,
– que têm receio de expressar publicamente a sua filiação religiosa,
– que não têm coragem de defender os seus valores religiosos, de se identificar com a Igreja e seus responsáveis (Papa, Bispos, Padres – mesmo imperfeitos e com falhas),
– que não se envolvem publicamente na luta contra leis e situações injustas que violam os princípios mais fundamentais da consciência humana, como a eutanásia, o aborto, o casamento homossexual, o racismo, a xenofobia, etc.
Onde estão hoje os cristãos disponíveis para assumirem a missão do profeta Isaías: “sobe ao alto de um monte; grita com voz forte; levanta sem temor a tua voz”? Será que esperamos mesmo “os novos céus e a nova terra, onde habitará a justiça”? Nestes tempos tão conturbados, que fazemos para “esperar e apressar a vinda do Senhor”?
S. Pedro recomenda-nos: “Enquanto esperais tudo isto, empenhai-vos, sem pecado nem motivo algum de censura, para que o Senhor vos encontre na paz”. Numa palavra: estamos empenhados e comprometidos com quê?
É verdade que a primeira e melhor ‘pregação’, hoje como ontem, é o testemunho da vida, mas ela não dispensa a importância da palavra para a denúncia das injustiças e o anúncio de novos caminhos e de novos valores, condizentes com a dignidade de toda a pessoa humana. S. Paulo afirma, na sua Carta aos Romanos: “Se confessares com a tua boca: «Jesus é o Senhor», e acreditares no teu coração que Deus o ressuscitou de entre os mortos, serás salvo. É que acreditar de coração leva a obter a justiça, e confessar com a boca leva a obter a salvação” (9, 9-10).
Não é com cristãos mornos e amorfos, mas apenas com cristãos convictos e ousados que este mundo poderá levar uma volta, aquela volta a que Jesus, com a sua incarnação, deu início!
Poderá o Senhor contar com cada um e cada uma de nós para, com Ele, apressarmos a vinda da nova terra e dos novos céus, onde reinem a paz, a justiça, a verdade, a compreensão, a alegria e a solidariedade, isto é, tudo aquilo que nesta quadra natalícia desejamos uns aos outros?
É neste tempo de Advento que podemos e devemos reforçar as nossas opções e a coerência com elas!