22º Domingo do Tempo Comum
Num tempo em que impera o relativismo de “cada cabeça cada sentença” e leva a que cada um decida a sua escala de valores e procure ser o autor dos seus critérios, esta Palavra do Senhor convida-nos a reocuparmos o nosso lugar de criaturas e a fazermos nosso o pedido do Salmo Responsorial: “Ensinai-nos, Senhor: quem viverá em vossa casa?”
E este desejo, para ser sincero, exige em cada um de nós uma atitude de “escuta” atenta para uma obediência pronta e alegre, acolhendo e obedecendo às “leis e preceitos” do Senhor, sem nada lhes acrescentar ou subtrair, pois aí se encontram a sabedoria e a prudência que nos conduzirão à verdadeira felicidade. O sermos cristãos não faz de nós automaticamente melhores ou mais competentes, mas deve tornar-nos mais felizes!
Esta é também a mensagem de S. Tiago, ao dizer-nos que a nossa principal tarefa consiste em cuidar da Palavra de Deus, qual árvore em nós plantada, que se destina a crescer e a frutificar. Por isso, a verdadeira religião “consiste em visitar os órfãos e as viúvas e em conservar-se limpo do contágio do mundo” do individualismo e do relativismo.
E Cristo vai mais longe ao desmontar todo um sistema de práticas religiosas, farisaicas e externas, meramente ritualistas, que, embora aceitáveis e, até, recomendáveis, nunca poderão substituir ou prevalecer sobre o essencial – “é vão o culto que me prestam” -, pois deixam de lado “o mandamento de Deus” para se prenderem à “tradição dos homens”.
Ai se Cristo visse tanta hipocrisia que por aqui vai, tanta preocupação em dar nas vistas, em impressionar bem! Mas também há tanto escândalo fácil e barato, pretendendo justificar as atitudes próprias com as (menos puras) intenções dos outros!
É verdade que os verdadeiros ‘praticantes’ são aqueles que cumprem a verdadeira religião. Mas será possível chegar aí sem cultivar esta planta da Palavra de Deus na oração pessoal e na prática dos Sacramentos, nem centrarmos a nossa atenção no nosso coração, pois é aí que está a fonte donde brotam o bem ou o mal que fazemos ou deixamos de fazer? Bento XVI lembrava que a fé deve ser “professada, celebrada, vivida e rezada”. Ficar-se por qualquer das partes é mesmo pretender dar as suas medidas para o fato. Só que, neste caso, as medidas saem sempre muito curtas.
Quem anda atento e preocupado com a qualidade da fonte donde brota o seu ser e o seu agir, nem tempo lhe sobra para reparar nos outros e, menos ainda, para julgar das suas intenções! E quando essa tentação nos assaltar, respondamos-lhe com esta oração: “Ensinai-me, Senhor: quem viverá na vossa casa? Ensinai-me, Senhor”!