O Papa Francisco visitou Marrocos a 30 e 31 de março.
Reforçou o respeito pela cidadania da pequena comunidade católica, defendeu
mais e melhor diálogo inter-religioso, combateu o fundamentalismo, apoiou
acolhimento aos migrantes e refugiados, alertou – mais uma vez- para a urgência
do compromisso ecológico e fez o mundo olhar para Jerusalém, como Cidade da
Paz.
0,07% de católicos
Ainda sopram fortes depois da visita do Papa Francisco. Foi mais uma viagem notável, pelo símbolo, pelos pormenores que deixaram de o ser.
25 mil católicos para um país grande como Marrocos talvez não justificassem uma visita Papal. Os Emiratos Árabes têm um milhão… Mas o Papa não corre atrás de números, escolhendo sempre cirurgicamente onde faz sentido arriscar, levantar voo e aterrar. O encontro com estes 25 mil e muitos muçulmanos foi um sinal de comunhão e de diálogo. Também fez ecoar no mundo inteiro palavras como ‘respeito’, ‘cidadania’, ‘missão’, ‘abertura’…e não apenas ‘tolerância’, ‘protecção’…
O Papa, no encontro com a Caritas e na Missa no Estádio Príncipe Abdellah, reforçou o direito de cidadania dos cristãos residentes em Marrocos. Fortaleceu os católicos (0,07%), atribuindo-lhes a força de um pouco de fermento que a Mãe Igreja quer misturar com uma grande quantidade de farinha, até que toda a massa fique levedada! A Igreja – disse Francisco – tem de ser o fermento das bem-aventuranças e do amor fraterno. E lembrou o que todos devíamos saber: o diálogo não é estratégia para aumentar o número, mas torna-se oração que não discrimina, não separa nem marginaliza, mas faz-se eco da vida do próximo.
Mais três objectivos
Esta visita relâmpago a um país muçulmano tentou atingir outros três grandes objectivos: o primeiro, nada esperado, tem a ver com Jerusalém. Sabemos as piruetas diplomáticas dos EUA, Brasil e outros países que querem que a Cidade Santa seja apenas e só a capital de Israel. Ora, o Papa e o Rei de Marrocos assinaram um apelo comum para que Jerusalém seja reconhecida como Cidade Património Comum da Humanidade, uma vez que as três grandes Religiões do Livro (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo) ali veneram Lugares Santos. É uma cidade universal e multirreligiosa. Tem de ser lugar de encontro e símbolo de coexistência pacífica. Tal ajudará a assegurar à Terra um futuro de paz e de fraternidade.
O Papa Francisco foi a Marrocos por mais três excelentes razões: aprofundar o compromisso por uma melhor liberdade religiosa e de consciência no mundo, combatendo o fanatismo e o fundamentalismo religiosos; recordar e aprofundar as decisões do COP 22, realizado em Marrocos sobre as alterações climáticas; dar continuidade ao empenho da Igreja em favor dos migrantes e refugiados, apoiando as decisões da Conferência Intergovernamental sobre o Pacto Mundial para uma Migração segura, ordenada e regular, realizada em Marraquexe.
Tudo pela defesa dos migrantes
O Encontro com a Caritas Marroquina e migrantes foi um dos pontos altos desta simbólica visita Papal. ‘Quem constrói muros torna-se prisioneiro deles’ – repetiria o Papa na viagem de regresso a Roma!
Neste encontro, realizado em Rabat, o Papa lembrou que ‘os migrantes são milhões e ninguém pode ficar indiferente ao seu sofrimento’. Há que acolher quem nos bate à porta e mostra feridas que bradam aos céus. ‘Acolher, proteger, promover e integrar’ continuam a ser os quatro verbos que devem gerir a nossa relação com todos e cada um dos imigrantes. Mas Francisco também deixou uma palavra de combate a todos os ‘mercadores de carne humana’, os traficantes de pessoas. Apelou a percursos extraordinários de regularização de imigrantes em vez da opção por expulsões colectivas. Finalmente, o Papa elogiou Marrocos por ser um exemplo de humanidade para com os imigrantes e os refugiados.