26º Domingo do Tempo Comum
Nos textos que nos acabam de ser proclamados é bem evidente a condenação de um estilo de vida assente no fausto, na luxúria, nos prazeres da mesa e na ociosidade, a que chamaremos ‘vida regalada e burguesa’. De facto, à corajosa denúncia e condenação do profeta Amós – “acabará esse bando de voluptuosos” -, junta-se no texto evangélico a do rico que “se banqueteava esplendidamente todos os dias”, mas que foi parar à “mansão dos mortos”, onde se encontra mergulhado “em sofrimentos”.
Não tenhamos ilusões. Jesus é bem claro: centrar a vida apenas no desafogo e bem-estar materiais, sem preocupações de outra ordem e num alheamento total pela sorte dos outros, que só existem quando e para o que nos convém, é construir “torres de marfim”, mas que acabarão por ruir, porque construídas sobre areia!
Mas também não dá para se concluir que, “no outro lado”, haverá uma simples e automática inversão de posições, donde poderia deduzir-se a apologia da miséria: quanto mais pobre, quanto mais miserável “cá em baixo”, melhor!
Nada mais antievangélico! A parábola contada neste Evangelho, pretende ir muito mais longe: “têm Moisés e os Profetas – que os oiçam”! Ela aponta para os instrumentos de que Deus decidiu servir-se para oferecer a sua salvação a todos os homens. Pensar que intervenções extraordinárias (de anjos, de mortos, etc.) seriam mais bem sucedidas é hipótese que Deus não admite: “também não se deixarão convencer”. Foi, aliás, o que aconteceu com a ressurreição do seu próprio Filho: a maioria recusou aceitá-la!
Mas esta conclusão mexe connosco, pois é através de nós que Deus quer oferecer a todos a sua salvação! Como cristãos, somos chamados a ser sinal e agentes da salvação de Deus. Para isso, teremos de ser “homens / mulheres de Deus”, como diz S. Paulo, com uma vida pautada pelos valores da justiça, da sobriedade, da fé e da caridade, que nos tornará capazes e credíveis para denunciar a idolatria do ter e do gozar, bem como as injustiças que por todo o lado ela faz proliferar, e para apontar, com o testemunho da nossa vida, os caminhos da verdadeira felicidade.
E Lázaros, a reclamar a nossa atenção e a nossa solidariedade, vão se multiplicando aos milhares, a ponto de ‘tropeçarmos’ neles constantemente. Aceitemos parar e reparar neles, e deixemo-nos interpelar por eles!