9º Domingo do Tempo Comum
Os desencontros e discussões entre Jesus e os Fariseus, que todos os evangelistas relatam, apontam para uma problemática que vai muito para além do tempo em que Jesus viveu sobre a terra e que, por isso, também nos interessa a nós, hoje. Os textos deste domingo centram a nossa reflexão num dia diferente da nossa semana – então, o sábado, o domingo, hoje.
Verdadeira pedra de toque para os Fariseus, a sua instituição, apesar da redação sacerdotal do texto, aponta claramente para dois pilares verdadeiramente inseparáveis: a sua santificação, isto é, a sua consagração a Deus – “é do Senhor” – e a proteção de todo o ser humano, reservando para todos semanalmente um dia de descanso.
Mas a verdadeira fundamentação é o reconhecimento da intervenção de Deus em favor dos israelitas: “recorda-te que foste escravo na terra do Egipto e que o Senhor, teu Deus, te fez sair de lá com mão forte e braço estendido”. Por isso, a vivência do sábado/domingo deve ser expressão grata da liberdade, acolhida, preservada e cultivada como o dom mais precioso, que trazemos, na expressão de S. Paulo, “em vasos de barro” e, portanto, constantemente ameaçada.
Trata-se da verdadeira liberdade, capaz de resistir a todos os ataques – “oprimidos, mas não esmagados; perplexos, mas não desesperados; perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não aniquilados” – e à qual, com Cristo e como Cristo, queremos permanecer firmes e fiéis, “para que se manifeste também na nossa carne mortal a vida de Jesus”.
A aproximação que o evangelista Marcos faz entre esta discussão e a cura de uma mão atrofiada aponta-nos o caminho a ser percorrido por cada um/a de nós, não só ao domingo, mas em toda a nossa vida: a causa da saúde plena, para, com “mão forte” e de “braço estendido”, isto é, com o empenho máximo, restituirmos a toda a pessoa condições para a sua realização plena.
Com efeito, a visão que os Fariseus tinham do sábado, e acerrimamente defendiam, é comparável à mão atrofiada, que, mais do que permitir agir e atuar, se torna empecilho. Trata-se de uma visão reducionista que, em vez de dar glória a Deus, mortifica o homem e o impede de se elevar acima da sua dimensão de ‘homo faber’, truncando-o de outras dimensões também elas imprescindíveis: a contemplação, o convívio, a adoração.