O título deste artigo é influenciado por Chimamanda Ngozi Adichie naquilo a que ela designa por “o perigo da história única”. Segundo esta célebre escritora nigeriana, nada é apenas aquilo que podemos saber dele. Este breve artigo escrito por ocasião do 50º Dia Mundial das Comunicações Sociais não pretende ser uma vassalagem aos óbvios e gigantescos avanços dos meios e tecnologias das comunicações sociais, mas evidenciar o que as comunicações sociais fazem e podem fazer (melhor) na edificação de uma sociedade mais justa onde impere a paz.
Se bem que é verdade que, ‘quem conta um conto aumenta um ponto’, cumpre assinalar uma inestimável e sincera dívida de gratidão para com aqueles responsáveis das comunicações sociais, que, ao longo do seu percurso jornalístico, tantas razões nos dão para apreciar uma notável sensibilidade sociocultural e humana no modo como assumem a tarefa e a dignidade de ser portadores de notícias.
Informação é o caminho de conhecimento e consciência das realidades. Hoje, graças às múltiplas e cada vez mais sofisticadas tecnologias e meios ao serviço das comunicações sociais, quase se consegue ter as informações pormenorizadas de tudo e de todos os cantos do mundo.
Informação implica formação. Se, por um lado, os responsáveis das comunicações sociais se devem formar para informar, os consumidores informam e formam-se, fruto da dedicação e profissionalismo dos profissionais dos mídia.
É imprescindível que os profissionais de imprensa sejam profissionalmente inteligentes para poder ter vários pontos da vista de uma mesma realidade, tendo consciência de que os factos da realidade presente estão em construção permanente. Devem ser inteligentes ainda, porque devem saber o que transmitir e não apenas transmitir o que sabem. Saber o que transmitir significa fugir de todas as formas de relatos estereotipados, meramente rudimentares ou histórias carentes da sensibilidade ao público-alvo.
Ser profissionalmente inteligente implica também saber que nenhuma história tem apenas uma versão. Quando é alinhada uma história só, o profissional não proporciona à sua audiência a opção de ser feita uma análise crítica. Um profissional das comunicações sociais não deve andar ao sabor do vento. Deve dar o braço a torcer pelo que é verídico, justo e que constrói a paz. É preciso ter a arte de transmitir uma história equilibrada.
Sem menosprezar a eficiência das tecnologias de comunicação, não há nada melhor como saber e, sempre que for possível, em primeira mão, aquilo que é oferecido ao público. Repleto está o mundo de histórias dos profissionais de imprensa que, a partir do conforto de seus escritórios, compõem e fazem montagens de reportagens sobre lugares e acontecimentos dos quais possuem poucos ou nenhuns conhecimentos. Um bom exemplo disso é a forma como repórteres ocidentais deturpam, muitas vezes, os acontecimentos dos países em desenvolvimento, em especial os ocorridos nos países africanos. Escrevem e falam deles de formas e termos que dificultam a busca da justiça e comprometem a procura da paz.
Creio que o papel de um jornalista não é só informar, mas também tomar partido. Mas, a fim de tomar partido, é preciso ser informado, ter estudado o assunto e analisado criticamente as situações e a realidade. Para ter opiniões é preciso sentir as pulsações sociopolíticas, religiosos, culturais e económicos das partes envolvidas. Prescindir deste papel é ser tudo menos um profissional responsável por aquilo que é comunicado.
Na sua última Carta Apostólica intitulada “o rápido desenvolvimento” publicado em 24 de Janeiro 2005 e dirigida aos responsáveis das Comunicações Sociais, S. João Paulo II alerta os responsáveis das Comunicações Sociais nestes termos: “O grande desafio para a imprensa”, escreveu ele, é “preservar o acesso livre e aberto, evitando a manipulação da mesma por forças ideológicas ou o uso destrutivo dos meios de comunicação para promover o materialismo egoísta. Usado corretamente”, frisou ele, ainda que a comunicação social “pode e deve promover a justiça e a solidariedade”.
Há três eixos a voltar dos quais giram a eficiência e o bom proveito das comunicações sociais nomeadamente “formação”, “participação” e “a promoção do diálogo”. Tanto os profissionais como os consumidores das comunicações sociais devem-se orientar por estes fulcros. Penso que aqui reside o verdadeiro significado das comunicações sociais ao tornarem-se veículos e promotores da solidariedade, da justiça e da paz.
Simon Ayogu